Discriminação na área de tecnologia afeta 51% das brasileiras
A desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho está longe de terminar, mas a diferença é ainda mais marcante em algumas áreas. Uma pesquisa no campo de tecnologia mostrou que 51% das mulheres entrevistadas relatam preconceito no ambiente de trabalho.
O mesmo levantamento, realizado pela Catho, em parceria com a Upwit (Unlocking the Power of Women In Technology) e a Revelo, apontou que apenas 11% das mulheres acreditam que as organizações realmente valorizam a diversidade de gênero. Do total, 46,6% consideram que as oportunidades de crescimento em suas empresas são ruins ou péssimas.
A pesquisa também mostrou que um homem tem quase o dobro de chance de conseguir uma promoção do que uma mulher.
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“Temos que colocar o tema em discussão e esse é o nosso principal desafio como mulher”, disse Daniela Giugliano, gerente de produtos da Catho. “A pior forma de enfrentar o preconceito é fingir que ele não existe.”
Daniela diz nunca ter sofrido preconceito direto, mas sente o problema de maneira velada. “Para aquelas que sofrem preconceito em uma empresa, aconselho buscar apoio em outras mulheres, conversar sobre o assunto, pois isso fortalece e nos ensina a lidar com o problema.”
Em relação ao investimento em capacitação profissional, homens e mulheres que trabalham com tecnologia estão equiparados. Entre os homens, 46% estão matriculados em algum curso. Entre as mulheres, o número foi de 47%.
Mansplaining e manterrupting
Isabele Romanini Carvasan, 21, graduanda e técnica em informática, trabalha no desenvolvimento do sistema da NeoAssist. Segundo ela, o machismo no trabalho costuma se manifestar em duas situações constrangedoras: o mansplaining e o manterrupting.
“Infelizmente, posso dizer que passei por todos esses episódios”, conta. “O mansplaining –quando um homem tenta explicar algo que ela já tem total conhecimento– e manterrupting –quando um homem interrompe uma mulher constantemente, impedindo-a de concluir o seu pensamento.”
Em 2015, Isabele tentava uma reinserção no mercado de trabalho e se candidatou a uma vaga que se encaixava perfeitamente ao seu perfil profissional. Semanas depois, em conversa com um colega de faculdade, descobriu que ele havia assumido o cargo.
“Quando o questionei sobre o posicionamento da empresa, ele argumentou que a mesma sempre dava prioridade para contratação de funcionários homens, mas que também não sabia o motivo. Como resultado, aquela notícia me deixou abalada e me fez duvidar das minhas próprias habilidades.”
“Devemos nos impor perante todas as situações opressoras que nos rodeiam. Você, mulher, tem total capacidade para se tornar aquilo que deseja, portanto, não se deixe abalar pelas dificuldades durante sua trajetória. Só assim teremos chances de quebrar o estereótipo de que todo programador é um homem branco que usa óculos e tem ar de intelectual.”
“Privilégio” de não ter sofrido discriminação
Mauê Vizaccro, 19, desenvolvedora front end na NeoAssist, conta que nunca sofreu discriminação nessa área e se sente “privilegiada”.
“Digo que sou privilegiada, pois tenho conhecimento de vários casos de mulheres que sofreram discriminação nessa e em outras áreas tidas como ‘masculinas’. É difícil de lidar com esse descrédito que é atribuído à mulher simplesmente pelo seu gênero”, contou.
“No entanto, é importante que todas as mulheres, independente da área de atuação, sejam empoderadas, tenham confiança para erguer a cabeça e não deixar com que situações como essas as desencorajem.”
“Cada uma que se destaca em uma área tida como masculina vira inspiração para muitas outras, por seu talento, trabalho e principalmente pela coragem de ser ela mesma”, concluiu.
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