Editora usa internet e dá segunda chance para grandes autores ‘esquecidos’
Cansada de ver grandes autores e textos serem recusados por editoras, a agente literária Leda Cintra, resolveu usar a plataforma digital da Amazon para criar a própria editora.
A Editora Cintra existe há aproximadamente 1 ano e meio e já publicou 30 e-books. Em seu catálogo, importantes autores brasileiros que foram esquecidos pelo tempo e novos talentos da literatura.
O Catraca Livre conversou com Leda Cintra, criadora da editora. Confira.
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Catraca Livre: Como surgiu a ideia da editora?
Leda Cintra: Trabalho como agente literária e cansei de um mercado que diz não para grandes textos, seja inéditos, seja recuperados de outros séculos. Resolvi montar minha editora. Como na Amazon as despesas são baixas, posso me dar ao luxo de editar autores nos quais acredito. E que provavelmente não seriam lidos se não fossem os e-books.
Catraca Livre: Como é o trabalho da editora?
Leda Cintra: É um trabalho de resgate. Fazer com que as pessoas entrem em contato com grandes textos nacionais que, até então ficavam nas gavetas, por falta de publicação.
Vivemos um círculo vicioso, na qual esses textos não entram nas editoras porque os escritores não têm público. E o leitor não pode ler porque não publicados.
Por isso acredito na importância de resgatar esses autores, independente das editoras.
Catraca Livre: Cite alguns autores resgatados pela Editora
Leda Cintra: Posso citar Menalton Braff, um dos autores mais premiados do Brasil, mas que tem um texto um pouco mais difícil, com colocações existenciais e filosóficas. Embora sejam textos coerentes com os assuntos propostos, apresentam-se como um pouco mais difíceis, por isso tem poucos leitores.
Outro autor que recomendo é Geraldo Ferraz, de quem publicamos Doramundo, um clássico de 1956 – ano do lançamento do Grande Sertão Veredas. Nesse ano o crítico Hélio Pólvora comentou que Doramundo foi um dos momentos mais luminosos da literatura brasileira.
Apesar da visibilidade que o livro teve na época e mesmo posteriormente quando- chegou a virar filme com direção do João Batista Andrade, com Irene Ravache e Antônio Fagundes-, o livro nunca vendeu muito.
Como é trabalhar na plataforma digital?
Leda Cintra: Publicar na plataforma é uma alegria. Eles são realmente corretos e prestam contas e ajuda, tanto quanto podem. Tem sido muito agradável. Eles são sérios. Por outro lado ainda falta que o público brasileiro acorde para isso. Você já vê pessoas no metrô lendo e-books, mas ainda é muito pouco.
Acho que seria bom um marketing mais agressivo. Não sei se é esse o caminho, mas acho que esteja faltando agressividade na divulgação.
Catraca Livre: Qual é a sensação de poder publicar livros que você admira?
Leda Cintra: Eu consegui publicar a obra teatral inteira de Jorge Andrade e isso eu não conseguiria em editora nenhuma. Foi uma sensação imensa. Ele é um dos maiores, se não foi o maior autor teatral do século passado. Ele renovou o teatro brasileiro e não pode ser esquecido.
Publicar Jorge Andrade na Amazon foi a possibilidade de abrir a porta para novos leitores, para impedir que esse autor e sua obra permanecesse apenas no meio acadêmico. Não tenho nada contra, mas acho que o autor não escreve para ficar na academia e sim para o público.
Com a editora eu também posso me dar ao luxo de publicar novos talentos da literatura, assim como a Antologia de Escritos Indigenas, em que aeparecem escritores indígenas de várias etnias, com seus textos ilustrados por artistas da própria etnia a que o autor pertence e isso é respeito pela cultura nacional.