Empreender na favela é um desafio, mas não é impossível

Em ascensão durante a crise, o business marginal chega à programação do Festival Path 2019 para falar sobre resiliência, produtividade e geração de renda

Em países subdesenvolvidos, o improviso sempre foi necessário como questão básica de sobrevivência. Com o tempo, as chances de transformar ideias, mesmo que simples, em negócios rentáveis se tornaram mais abrangentes, sofisticadas e acessíveis, indo dos grandes centros urbanos às periferias. Mais do que estimativa, os dados mostram que empreender na favela ainda é um desafio, mas não é impossível.

No Festival Path 2019, que acontece nos dias 1 e 2 de junho em São Paulo, quatro profissionais irão debater o tema e suas nuances para um futuro mais promissor dentro e fora das comunidades.

Atualmente, o Brasil conta com 50 milhões de pessoas vivendo na linha da pobreza e mais de 13 milhões de desempregados. Enquanto a crise econômica segue assombrando boa parte da população, outra parte tem encontrado soluções um tanto subversivas neste cenário caótico, abrindo portas para o trabalho informal, que segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) já soma 37,3 milhões de trabalhadores. Quase metade tem pele preta ou parda. Entre os microempreendedores individuais (MEI) o número também só cresce, chegando a mais de 8 milhões de brasileiros autônomos.

Projeto Favela Hub, unindo criatividade e vontade de empreender
Créditos: Festival Path
Projeto Favela Hub, unindo criatividade e vontade de empreender

O empreendedorismo periférico vem impulsionando o sustento de famílias, de mães solo a jovens engajados, que acreditam em seus projetos pessoas e/ou profissionais, mesmo sem tanta grana para investir. Com ajuda de consultorias, incubadoras, livros e tecnologia, abrem oportunidades para si mesmos e para os vizinhos.

“Acredito que o empreender na favela tem ajudado a tirar o Brasil da crise, já que muitos estudos mostram que as classes C,D e E não diminuem seu consumo em comparação com outras classes sociais”, argumentou João Souza, co-fundador e CEO do FA.VELA, a primeira aceleradora de negócios e projetos de base favelada do Brasil, com sede em Belo Horizonte.

Para o consultor, o segredo para o sucesso mora na versatilidade nos modelos de negócios que estão dentro da favela. “É oriunda das ausências de acessos a conhecimento formais e técnicos, mas de longe é algo que impede de se ver a reprodução, releitura e mimetização de tendências de mobilidade, gastronomia, moda e tecnologia dentro destes espaços”.

Favela Hub e abeLLha em parceria
Créditos: Festival Path
Favela Hub e abeLLha em parceria

Faz um ano que Betânia Pontelo, coordenadora do programa de incubação na abeLLha, incubadora de negócios de impacto no Rio de Janeiro, está acompanhando o desenvolvimento de negócios nas favelas Cantagalo-Pavão-Pavãozinho. Ela aponta que uma das inovações em ascensão dentro das comunidades hoje está na área de serviços já bem conhecidos por quem está distante da periferia: carteiro, coleta de lixo, uber, internet de qualidade, entre outros.

“Lá dentro a história é diferente e é isso que eu vejo como o maior potencial de criação de novos negócios, como eles hackeiam o sistema e criam lá dentro o que os fornecedores de fora não conseguem atender. É como gerar uma economia local fornecendo serviços básicos de qualidade fornecidos pelos próprios moradores”, explicou.

Como é de se imaginar, existem, porém, muitas barreiras a serem vencidas e dribladas por quem quer empreender na favela. João cita que o acesso a crédito continua sendo um dos maiores desafios, especialmente porque além das questões práticas, existe ainda o fator preconceito nessa conta, impedindo a oferta de empréstimos e demais modalidades financeiras.

Outros impeditivos estão ligados às próprias condições de vida complicadas dentro das comunidades, como a falta de segurança e estabilidade. “Um dos maiores desafios que vejo hoje é como conciliar um trabalho que dê sustento com as atividades do novo negócio. As jornadas se tornam bem longas. O ambiente instável das comunidades do Rio torna ainda mais difícil a vida do empreendedor, que muitas vezes precisa faltar ao trabalho por não conseguir sair de casa, tem impedimentos do novo negócio por interferências do tráfico e muitas vezes não consegue ser resiliente o suficiente para dar continuidade ao empreendimento”, pontuou Betânia.

Mesmo diante das adversidades, o baile segue. Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto Data Popular em parceria com a Central Única de Favelas (CUFA), quatro em cada 10 moradores de favelas desejam empreender, sendo 63% destes com foco em montar um negócio dentro da comunidade.

As chances de crescimento no setor só tendem a aumentar. Betânia endossa a potência criativa e pró-ativa da favela. “Nessa época de crise eu vi muita gente se reinventar, procurar novas atividades, novos produtos, querer aprender mais e ter mais senso de oportunidade quando vê algo bacana e que pode se tornar um negócio. ”

E o que é preciso para ser um empreendedor de base? “Coragem! É muito sedutor buscar a segurança de um emprego fixo e com algum benefício. Empreender na favela (e em outros contextos) não tem glamour, não tem holofotes, é preciso se reinventar todos os dias e renovar sua resiliência”, esclareceu João.

Já a coordenadora de inovação acredita em quatro qualidades para o negócio dar certo: energia, resiliência, paciência e disciplina. “Talvez essas sejam as palavrinhas mágicas que, com uma pitada de criatividade e senso de oportunidade gerem os melhores negócios. Não adianta ter uma boa ideia sem uma boa execução, ao mesmo tempo que não adianta executar bem, mas querer tudo pra ontem.”

Descubra outras formas de empreender e investir durante a programação do Festival Path 2019, evento múltiplo que oferece experiências em educação, entretenimento e negócios. Inseridos na programação recheada desta edição, João e Betânia se juntam a educadora Camila Vaz e ao fundador da Cia. Cambona, Hércules Laino, no bate-papo “Favela e asfalto: batendo um sincerão com empreendedores de base”. Os ingressos estão se esgotando! Garanta já o seu e curta a extensa programação de palestras, shows e workshops em plena Avenida Paulista!

Serviço:

Palestra: “Favela e asfalto: batendo um sincerão com empreendedores de base”

Quando: Sábado o1/06 das 11h00 às 12h00

Onde: Hotel Tivoli Mofarrej, Sala Liberdade

Endereço: Alameda Santos, 1437 — Jardim Paulista, São Paulo — SP, Brasil