MIT elabora sistema para cooperativa de catadores
por Mara Gama, publicado na Folha de S.Paulo
Dois pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) dos Estados Unidos desenvolveram um sistema sob medida para a mais antiga cooperativa de catadores de material reciclável do Brasil, a Coopamare, criada em 1989.
A Coopamare funciona embaixo do viaduto Paulo 5º, em Pinheiros, zona oeste de SP.
O sistema deve ampliar o acesso dos moradores da região à coleta e aumentar o volume de material recolhido. O projeto é piloto, feito com software livre, e deve começar a funcionar no segundo semestre de 2012.
Aumentar a coleta de recicláveis é fundamental para preservar o meio ambiente. Desonerar os lixões abertos é economia de recursos e ganho em saúde pública.
O país aprovou, no ano passado, uma Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que indica que os municípios devem banir os lixões e implantar sistemas de coleta de recicláveis em domicílios até 2014.
Estima-se que só 2,4% da quantidade total de resíduos domiciliares e públicos sejam destinados a coleta seletiva no Brasil, segundo o estudo Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos 2009, do Ministério das Cidades.
O plano exige ainda a logística reversa, que é retornar embalagens e outros materiais à produção industrial após consumo e descarte.
Agendamento
Com o aplicativo bolado pelos pesquisadores do MIT, por celular, tablet ou pelo site na web, os moradores da área de atuação da cooperativa poderão indicar que tipo de material querem doar e a data da retirada.
Na outra ponta, os catadores da cooperativa -hoje 23 cooperados- verão mapas com doações agendadas.
A Coopamare recebe e coleta papel, vidro, plástico, lata e eletrônicos. Seus dois caminhões e carroças percorrem a região de Pinheiros das 8h às 16h e passam por três supermercados, empresas, escolas e condomínios.
Depois de recolher o material, acontece o trabalho de separação, prensagem e pesagem. Saem do pátio da cooperativa mensalmente de 50 a 70 toneladas de residuos sólidos, de acordo com Walison Borges Silva, 26, tesoureiro e cooperado há oito anos.
Os maiores compradores são empresas como Suzano (papel e papelão), Santa Marina (vidros), já no sistema de logística reversa. Outras empresas processam e reciclam PETs e plásticos.
Usabilidade
Para criar o programa, os pesquisadores Dietmar Offenhube e David Lee, do MIT, forneceram aos catadores aparelhos GPS e gravaram os percursos dos veículos da cooperativa. Com as informações, elaboraram um mapa e um banco de dados para armazenar pedidos de coleta e criaram as interfaces para celular, web e para a administração do sistema.
O próximo passo será testar a usabilidade do programa, com ajuda de alunos de mestrado e doutorado do Programa de Ciência Ambiental da USP, orientados pelas professoras Maria Cecilia dos Santos, Sylmara Gonçalves-Dias, Sônia Mercedes, e a pesquisadora da Universidade de Sheffield, Reino Unido, Ana Paula Bortoleto.