Mulher com câncer raro vende batatas para manter seu tratamento
Panelas, caixas de isopor e utensílios de cozinha se espalham pela sala da chef Lilian Sanjuán, moradora de São Roque, no interior de São Paulo. Às sextas-feiras, a cada 15 dias, a sala de estar de seu apartamento é transformada em uma grande cozinha para receber vizinhos e clientes que se reúnem para apreciar as batatas recheadas preparadas pela chef. O empreendimento foi batizado de Quem Segura Essa Batata.
Vendidas a R$ 15 cada, as batatas cozidas preenchidas com carne seca, queijo, frango e outros sabores ajudam Sanjuán a pagar tratamento, exames, consultas e remédios todo mês.
No começo de 2014, ela foi diagnosticada com pseudomixoma peritoneal, um tipo raro de câncer que ataca a região do abdômen.
Antes de descobrir a doença, Sanjuán era chef de um bistrô em Alphaville, na Grande São Paulo. Inicialmente, ao sentir dores e incômodos no abdômen, médicos indicaram que ela estava com apendicite. No entanto, mesmo após realizar uma cirurgia, as dores continuaram.
Em uma nova consulta no médico, a chef finalmente descobriu por que sentia tanta dor. Ela tinha 37 anos quando teve que parar de trabalhar para começar o tratamento contra o câncer e passar por uma nova intervenção cirúrgica.
“A cirurgia foi muito agressiva e ao final dela grampearam minha barriga. Fora isso, meu cabelo começou a cair e eu não parava de vomitar”, conta em entrevista ao Catraca Livre.
Preocupada com seus gastos, ela resolveu voltar a trabalhar quando recebeu alta e pôde ir para casa. No seu apartamento, montou uma estrutura para começar a preparar pizzas. “Eu vendia 10 pizzas. Mas aí foi aumentando para 50, teve um dia em que fiz 100”, comenta.
O ritmo de trabalho, no entanto, era muito pesado para ser mantido. “Eu sou muito perfeccionista. Embora tivesse ajuda de familiares e amigos, gostava de preparar os discos de pizza com minhas próprias mãos. Só que isso exigia muito esforço e acabava forçando meu abdômen”.
Certo dia, passeando em um shopping, ela teve um instalo: ia começar a preparar batatas recheadas. “Boca a boca, a notícia foi se espalhando pela cidade. Os vizinhos me ajudavam e até doavam alimentos como muçarela, presunto. Só que parei de aceitar doações, pois algumas pessoas maldosas disseram que eu tinha inventado a doença só para conseguir esses auxílios”, revela.
A história da chef foi veiculada pela imprensa e, em pouco tempo, o Quem Segura cresceu. A venda do produto é realizada duas vezes ao mês para que ela consiga conciliar o trabalho e o tratamento.
Quem segura essa causa?
Para ajudar na divulgação de seu empreendimento, Sanjuán teve a ideia de procurar famosos que pudessem ouvir sua trajetória.
Em uma visita a São Roque para uma apresentação teatral, Christiane Torloni teve a oportunidade de conhecê-la. A atriz foi a primeira das celebridades a tirar uma foto segurando o isopor da batata como forma de abraçar a causa. Depois dela, outros nomes como Sabrina Sato e Xuxa toparam posar em prol da iniciativa.
Atualmente, Sanjuán segue em tratamento. “Estou há dois anos nessa luta. Eu só quero viver. Às vezes caio pelas dores e pela situação. Tem dias em que quero cozinhar, mas dá fadiga, começo a tremer. Aí tenho que parar. Sinto que não tenho a mesma força de antes”, confessa.
“Vejo pessoas reclamando por coisas tão pequenas. Conto minha história pois quero que as pessoas deem mais valor para a vida. Elas sempre estão num modo tão automático e mal prestam atenção no que as outras falam. Espero que eu ajude a dar uma ‘chacoalhada’ nelas”, conclui.
Pseudomixoma peritoneal
De acordo com o médico Gustavo Jacob, o pseudomixoma peritoneal é um tipo raro de câncer que afeta a cavidade abdominal. Sua origem pode ser da ruptura de um tumor maligno mucinoso do apêndice ou do ovário.
Os principais sintomas deste tumor são a dor e a distensão abdominal.