Na China, 1600 pessoas morrem diariamente por trabalhar demais

Hora extra e estresses cotidianos são os grandes vilões dos trabalhadores de escritório chineses

04/07/2014 12:03 / Atualizado em 07/05/2020 10:24

A China está enfrentando uma epidemia de excesso de trabalho. A cada ano, cerca de 600 mil pessoas morrem por se esforçarem demais no trabalho, de acordo com o China Youth Daily, meio de comunicação estatal chinês. Esse número foi aproximado por outros meios em cerca de 1600 mortes por dia.

No Japão, existe um termo que é usado para a morte relativa ao excesso de trabalho: karoshi. Na Chna é guolaosi.
No Japão, existe um termo que é usado para a morte relativa ao excesso de trabalho: karoshi. Na Chna é guolaosi.

A maioria das vítimas são trabalhadores entre os 20 e 50 anos com empregos estáveis, mas, como a ligação entre essas mortes e o estresse relacionado ao trabalho pode não ser sempre clara, o número de mortos pode ser subjetivo e difícil de se contar.

As causas mais frequentes das fatalidades compreendem uma ampla gama de doenças, como ataque cardíaco e acidente vascular cerebral, que são agravadas pelo estresse das horas extras.

Cenário desfavorável

Na China, as preocupações dos trabalhadores de escritório com o excesso de trabalho refletem um ponto de inflexão no desenvolvimento econômico. O setor de serviços chinês tem eclipsado a indústria em termos de produção econômica, enquanto os trabalhadores das fábricas estão negociando redução de jornada e melhores salários. Trabalhadores de escritório ainda recebem mais do que operários, mas têm apenas algumas das proteções que um sindicato pode oferecer.

Além das contas maiores para pagar, como moradia e carros, há também a pressão demográfica: a política do filho único da China tem criado uma geração de filhos únicos que arcam com os custos do envelhecimento dos pais, além de suas próprias famílias.

Para essas pessoas, a hora extra se mostra como a única opção.

Hora extra, a grande vilã

O equilíbrio entre trabalho e vida ainda recebe pouca atenção na China, uma sociedade que combina uma moderna busca por riquezas com uma crença antiga em colocar a comunidade acima do individual, diz Yang Heqing, decano da Faculdade de Economia do Trabalho da Universidade Capital de Economia e Negócios.

Ele entrevistou centenas de trabalhadores dos bairros comerciais de Pequim sobre suas vidas em casa e no escritório. 60% queixam-se de trabalhar mais do que o limite legal de duas horas por dia de hora extra, o que está prejudicando sua saúde e sua vida familiar.

Passado e futuro

Em décadas passadas do governo do Partido Comunista, aqueles que tiveram sorte suficiente para conseguir trabalhos de escritório em empresas estatais tinham garantia vitalícia de emprego, habitação, alimentação e educação para seus filhos. Essas regalias desapareceram quando a China abriu as portas para o capitalismo na década de 1980 e as empresas menores cortaram empregos e benefícios para competir.

Agora, esses trabalhadores fazem hora extra, percorrem longos trajetos até suas casas e frequentemente saltam alguma das refeições. As mortes recentes levantaram questões sobre ética de trabalho do país. A maioria dessas pessoas nunca discutiram seus problemas pessoais com colegas de trabalho. Em um dos casos, um homem foi recomendado pelo médico da empresa a fazer exames mais específicos sobre sua saúde. Disse que não tinha tempo para isso. Um mês depois, sua esposa não sabia para quem ligar na empresa para avisar da morte do marido, pois não conhecia nenhum de seus colegas, apesar de ele ter trabalhado anos lá.

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Via Bloomberg Businesswek.