Pioneira no Brasil, marca confecciona roupas à base de fibra da maconha

Fundada por cinco jovens empresários, a Kanham.us busca a conscientização sobre as vantagens do cânhamo

Kanham.us é a primeira empresa no Brasil que investirá no cânhamo (a fibra da planta cannabis) como matéria-prima de sua produção. Mais do que um produto pioneiro, o grande objetivo da marca é levantar a bandeira que em um primeiro momento não será hasteada: será vestida.

“Não é só uma nova marca e uma nova ideia. Nossa primeira coleção de camisetas é um meio para um fim. Além dessa primeira leva de produtos, o que queremos é propagar a informação, isso é o mais importante. Trabalhamos com a cannabis, uma planta milenar e com mais de 25.000 possibilidades de uso, e não com a maconha”, explica Renan Miguel, um dos cinco idealizadores da empresa.

Dexavando a questão

Em outras palavras, a matéria-prima utilizada pela marca não pode ser considerada a mesma que “dá barato”, já que os níveis de THC encontrados no cânhamo são baixíssimos em relação aos que estão presentes na maconha, flor da cannabis.

Testes e pioneirismo

Para usar o cânhamo, o material foi escolhido minuciosamente e exigiu uma série de pesquisas realizadas ao longo de 2013. Já o ano de 2014 foi absolutamente laboratorial – da criação do perfil da marca nas redes sociais ainda sem nenhum produto em mãos  aos testes de lavagem, corte e tingimento com o novo tecido, todo ele importado da China.

Aos poucos, a Kanham.us encontrou um material que se misturava perfeitamente com diversos outros tipos de tecidos naturais e artificiais, e ampliou seu leque de possibilidades.”Já temos novas camisetas, bonés, jaquetas, calças e bermudas prototipadas. Por enquanto, nosso trabalho é seguir conscientizando as pessoas de que o cânhamo não é somente uma fibra que reproduz o que outras matérias-primas produzem: ele resulta em produtos ainda melhores, com mais qualidade e resistência”, explica André Prado, sócio da marca, reforçando que, além de pouquíssimos produtos específicos trazidos ao Brasil por grifes consagradas, a marca não possui concorrentes diretos no país.”O que existe é uma concorrência indireta, que é quando determinada marca usa qualquer outro tipo de tecido, como o algodão, para explorar esse universo canábico em suas peças. Mas concorrentes diretos no Brasil não existem, somos a única marca que importa e produz o produto final de cânhamo”.

Cultivo e desmistificação

Com um potencial econômico cada vez mais evidente em países como Estados Unidos, Canadá e Holanda, a cannabis pode ser uma alternativa altamente sustentável e, de certa forma, barata para o mercado brasileiro. Porém, segundo os fundadores, a liberação do plantio no Brasil ainda caminha a passos lentos. “No País, caminhamos para a legalização do uso medicinal da planta, mas para o uso industrial e recreativo ainda dependemos de maiores discussões e projetos. O curioso é que importamos o cânhamo da China, onde as leis de combate às drogas são absolutamente mais rígidas, e onde, mesmo assim, as autoridades já assimilaram a riqueza do cultivo para a indústria”, relata Prado.

A história do cânhamo em fatos reais 

Quem endossa o coro dos fundadores da Kanham.us é a própria história. As primeiras calças jeans da Levis eram de cânhamo. A constituição dos Estados Unidos foi escrita em papel de cânhamo. As cordas dos navios de todas as grandes navegações eram de cânhamo. O gênio Henry Ford construiu seu famoso carro sustentável com plástico e combustível de cânhamo.

Ou seja: o grande trabalho da marca, de fato, é a desmistificação sobre o assunto, ainda envolto por muita ignorância e preconceito”Levantar uma bandeira é complicado, estamos mostrando nossa cara. Se a Kanham.us diz que a planta é boa, muita gente vai ‘torcer o nariz’, pois ainda existe muito conservadorismo em relação ao assunto. Muita gente gosta do produto de uma forma velada, temos até alguns amigos que não curtiram a página no Facebook com medo de exposição. Mas adivinhem quem foram os primeiros a comprar? Esse é o desafio: levar informação aos mais variados públicos para que o tema não seja um tabu e o nosso produto seja o protagonista”, finaliza Miguel.