Projeto de contação de histórias envolve crianças quilombolas e vira livro
Histórias que misturam as vivencias de uma criança no quilombo Rio das Rãs, literatura de cordel, cartas antigas e muita imaginação. Enquanto Meire falava, os jovens escutavam com atenção. Era a vida deles e de seus antepassados que estava sendo contada ali. Enquanto ouviam, traços coloridos iam ganhando forma e a imaginação dos pequenos decolava. Era um vôo para o passado que, mal sabiam eles, faria com que compreendessem melhor o seu presente e ajudaria a construir seu futuro.
Marie Ange Bordas e Meire Lucia Rodrigues Cazumbá se conheceram em São Paulo, mas a história dessas amigas de aventuras tem como cenário o interior da Bahia. Meire nasceu na década de 1960 na comunidade de Pituba, hoje quilombo Rio das Rãs, às margens do Rio São Franciso. Apesar de ter cursado a faculdade de direito em São Paulo ela mantém uma relação estreita com todos de sua comunidade natal.
Marie fez faculdade de jornalismo em Porto Alegre, mestrado em imagem e som na USP e fotografia em Nova York. Desenvolveu projetos colaborativos de arte na Africa do Sul, Quenia, Sri Lanka, França e Inglaterra. Marie despertou na amiga Meire a Cazumbinha que vivia dentro dela. Para conceber o livro Histórias da Cazumbinha, a dupla passou dois verões com as crianças do quilombo Rio das Rãs.
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Meire contava suas histórias, garimpadas na memória, na literatura de cordel e durante os anos em que foi escritora das cartas que os moradores analfabetos da comunidade enviavam para parentes distantes. Os pequenos quilombolas ouviam atentamente e, pouco a pouco, foram registrando, por meio de seus desenhos, as comidas, as roupas, as plantas, os bichos, as pessoas e os lugares que passavam pelas aventuras de Meire Cazumbá.
As seções de contação de história tiveram como objetivo colocar as crianças da comunidade em contato com sua história e sua cultura. “Durante o processo as eles iam se identificando com os lugares e os personagens”, lembra Marie. O projeto é parte do trabalho de alfabetização visual que a jornalista vem desenvolvendo há mais de dez anos em diferentes lugares do Brasil e do mundo.
O resultado de todo esse processo está na publicação Histórias da Cazumbinha, da Companhia das Letras. Alí estão registradas todas as histórias de Meire, narradas em um tom próprio da oralidade, como se estivessem sendo contadas em voz alta. As ilustrações são os desenhos das crianças sobrepostos às fotografias tiradas por Marie, numa mistura de realidade e ficção, de fatos e de imaginação.