Um banco onde quem lucra com os empréstimos é a população

"Aqui a gente não consulta o Cerasa nem o SPC a gente consulta a comunidade” (Thiago Vinicius, um dos idealizadores do Banco união Sampaio)

Um banco onde quem lucra com os empréstimos é a população. Utopia? Não. É o que comprova o Banco União Sampaio, um projeto da União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências (UPM). O objetivo dos chamados bancos comunitários é aquecer a economia e fortalecer o comércio dentro de uma região específica, e dar a moradores com problemas financeiros, um voto de confiança que os bancos convencionais não dão.

O banco atua no Jardim Maria Sampaio, periferia da zona sul de São Paulo, dentro do subdistrito do Campo Limpo. Ali residem cerca de 30 mil pessoas, sendo que parte desta população é moradora de um Conjunto Habitacional composto por cerca de 20 prédios. A densidade populacional é alta para o tamanho da região, o que faz com que os postos de saúde, creches, áreas de cultura e lazer sejam insuficientes para o atendimento da demanda local.

Como funciona

O União Sampaio funciona por meio de empréstimos, sem juros, na moeda local, o Sampaio. As concessões de crédito são divididas entre o Credito Produtivo e o de Consumo. O primeiro tem como objetivo incentivar o empreendedorismo dos moradores e ajudar quem planeja viver de um negócio próprio. O segundo, busca ajudar aqueles que estão passando por dificuldades financeiras a adquirir bens básicos como comida, produtos de limpeza e de higiene pessoal.

Divulgação
1 Sampaio = 1 Real

Como os incentivos fiscais chegam aos moradores em Sampaios (1 Sampaio = 1 Real) esse dinheiro só pode ser gasto dentro da própria comunidade em estabelecimentos credenciados que aceitam a moeda. Depois os comerciantes trocam os Sampaios por Reais ou reutilizam as notas, fazendo-as circular internamente. A delimitação do território onde a moeda é aceita faz com que o dinheiro circule apenas dentro da comunidade aquecendo a economia local e incentivando os pequenos comerciantes.

Brasil afora

Hoje já são 51 bancos comunitários espalhados pelo Brasil, articulados pela Rede Brasileira de Bancos Comunitários. O primeiro deles, o Banco Palmas, surgiu em 1998 no Conjunto Palmeiras, em Fortaleza no Ceará. Cadastram-se na Rede todos os bancos que, após um rigoroso processo de formação, recebem e o selo de certificação. Todos os Bancos comunitários têm obrigação de “prestar contas” de suas atividades, anualmente, no Encontro Nacional.

Clara Caldeira

Por Clara Caldeira

Jornalista, escritora e pesquisadora, especialista em gênero e meio ambiente. Apaixonada por literatura e pelas artes oraculares, está sempre em busca de formas de conectar seus estudos e suas paixões.