Alimentos industrializados marcam presença entre indígenas na Bahia

07/04/2015 18:43 / Atualizado em 04/05/2020 17:08

Crianças indígenas também querem salgadinhos e chocolate,
Crianças indígenas também querem salgadinhos e chocolate,

Saem as frutas, a batata doce, o peixe, o feijão de corda, o beiju e os mingaus de milho e de tapioca. Entram em cena os salgadinhos, o macarrão instantâneo, os biscoitos e o refrigerante no cardápio de diversos povos indígenas do Brasil. A má alimentação extrapola os centros urbanos e os produtos industrializados, de baixa qualidade nutricional, e com muita gordura e açúcar, muito anunciados nos meios de comunicação, marcam presença também nas aldeias da Bahia, como constatou a professora Cristhiane Ferreguett.

Integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo – Rebrinc, Cristhiane Ferreguett ministra aulas na cidade baiana de Teixeira de Freitas, dentro do curso de Licenciatura Intercultural de Educação Escolar Indígena, LICEEI, da Universidade do Estado da Bahia, Uneb. A criação do curso foi uma reivindicação dos próprios educadores indígenas que buscam formas de preservar sua cultura por meio de uma educação escolar específica, diferenciada, intercultural e comunitária.

Alimentação

Por meio de pesquisas e debates entre seus alunos, Cristhiane levantou informações que retratam as mudanças nos hábitos alimentares de povos indígenas espalhados por vários pontos da Bahia, além do poder dos apelos da mídia e da publicidade sobre crianças e adultos nas aldeias.

A aluna Ana Paula Silva do Amaral, do povo Tupinambá, do município de Olivença, conta que na comunidade dela as crianças consomem macarrão instantâneo, chips, salsicha, refrigerante, achocolatado, biscoito recheado e suco em pó. Ela acredita que as crianças são muito influenciadas pela publicidade, tanto no consumo de alimentos industrializados, quanto na compra de brinquedos, celulares e maquiagens.

Juliana da Conceição Santana, do povo Pataxó, conta que a energia elétrica chegou em sua aldeia há 16 anos e junto com ela veio “a TV, a internet, e a febre das caixinhas de som e celulares”. Ela acredita que é possível frear ou reverter o processo. “Na aldeia, mesmo com essas novas tecnologias, ainda temos o privilégio do contato direto com a natureza”, analisa Juliana. A educadora indígena e aluna do curso Cirila Santos Gonçalves, do povo Kaimbém, diz que irá propor um projeto pedagógico para discutir o tema consumo consciente entre os alunos e suas famílias.

Obesidade

Maria Lúcia Silva, do povo Pankararé, afirma na sua aldeia há crianças com problemas de obesidade devido à má alimentação. Ela acredita que a escola deve dar o exemplo e ofertar alimentos saudáveis nas merendas destinadas aos alunos e o educador também deve orientar as crianças e os pais. A professora pretende fazer seminários para discutir a preservação da cultura do seu povo, além de conscientizar sobre consumo responsável.

O professor indígena João da Cruz Gomes, do povo Kantaruré, também observa a presença da obesidade infantil na sua aldeia e o consumo exagerado de produtos industrializados. Ele afirma que pretende executar um projeto com o objetivo de conscientizar e reeducar a comunidade.

Para Emanoel Brás de Almeida, do povo Pataxó, “a publicidade tem um papel de muita influência, visto que as crianças e adolescentes veem esses produtos sendo divulgados na mídia e isso faz com eles queiram consumi-los. “É como se esses produtos fossem saudáveis, mas, por trás disso há componentes perigosos que eles desconhecem”, diz se referindo a gordura, açúcar e outros ingredientes dos industrializados.

A disciplina “Ludopedagogia indígena”, ministrada no eixo Pedagogia, contou com a ajuda do aluno e professor Pedro José Neves do Espírito Santo, da aldeia de Coroa Vermelha, que fez um levantamento sobre brinquedos e brincadeiras dos povos indígenas. Em sua apresentação para todo o grupo sobre as brincadeiras tradicionais do povo Pataxó, ele destacou a necessidade da valorização do trabalho e da arte do seu povo. Ele frisou a importância da retomada das brincadeiras típicas dos povos indígenas, que promovem uma participação mais dinâmica e ativa das crianças, contra o sedentarismo que hoje atinge a infância.

Via Rebrinc – Rede Brasileira de Infância e Consumo

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