Como (e quando) contar sobre a separação aos filhos
Do nosso parceiro A verdade é que
Seus filhos não serão os últimos nem os primeiros a verem os pais passarem por um processo de divórcio. Ainda assim, separação é sempre um tema delicado. Embora muito mais comum hoje em dia, desperta muitas dúvidas nos pais. Para ajudar quem está passando pelo processo, o A Verdade é que entrevistou a psicóloga do São Cristovão Saúde Aline Cristina de Melo. Ela nos diz como e quando contar da separação, como lidar com as reações dos pequenos e também com a nova rotina da guarda compartilhada.
A Verdade é que: Quando um casal com filhos decide se separar, como e quando deve dar a notícia para as crianças?
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Aline Cristina de Melo: A decisão da separação de um casal sempre é um processo doloroso para os filhos. Apesar de ser algo cada dia mais comum em nossa sociedade, ainda é difícil para os filhos a aceitação e o entendimento desta decisão. O melhor momento para informa-los sobre o divórcio é quando esta decisão está seguramente resolvida pelos próprios pais, evitando gerar angustias desnecessárias para a criança ou adolescente, caso os pais mudem de ideia sobre tal fato.
Já em relação a melhor forma de explicar a separação para as crianças é sendo sincero e adaptando o discurso mediante a idade para fazer-se claro e entendido por elas. A maneira de falar e a abordagem que será usada são muito importantes. Posiciona-las sobre a separação de forma clara, sincera e verdadeira, transparecendo tranquilidade e segurança faz com que a criança identifique tais sentimentos e apazigue sua angustia por meio deste acolhimento. Não há necessidade de expor os reais motivos do divórcio, porém é muito importante que fique claro para a criança que ela não teve qualquer culpa ou participação nesta decisão.
AVÉQ: Que reações as crianças podem ter e como os pais devem lidar com elas?
Aline Cristina de Melo: Na grande maioria dos casos, a princípio, a criança não absorve bem a notícia da separação dos pais, pois tal aspecto implica no surgimento de muitas fantasias em suas mentes que perpassam desde a culpa e a contribuição delas para a separação, a possibilidade do divórcio afetar no amor que os pais sentem por ela e também a angustia da ausência do pai ou da mãe que sairá de casa. Por isso, é importante que os pais tenham paciência e sensibilidade diante das reações e dúvidas que surgirem por conta desse aspecto. A rejeição mediante tal decisão pode ser uma reação temporária, até a criança perceber que sua rotina e convivência com os pais estão diferentes, mas não será afetada em relação ao carinho e amor que continuará recebendo deles. Com o tempo essa reação tende a se dissipar conforme a criança recupera a segurança em sua família e nos laços afetivos com os pais. Também é importante frisar que se a criança vivenciava uma situação de constantes conflitos e brigas em casa, a decisão de separação também pode gerar a reação de alívio para ela, embora não seja o sentimento mais comum, isso também pode ocorrer.
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AVÉQ: A criança pode apresentar mudanças de comportamento? O que os pais devem observar?
Aline Cristina de Melo: Sim, caso a situação não seja bem absorvida pela criança ou demore mais para se adaptar, é possível que ela possa apresentar algumas alterações de comportamento que podem ser identificados em casa, por meio de comportamentos agressivos, introspectivos, ansiógenos, etc. Ou também no ambiente escolar com o declínio do rendimento da criança, o afastamento social dos amigos, entre outras situações. Por isso, é importante que, apesar dos pais também estarem vivenciando uma situação dolorosa devido a separação, não percam o foco de observar tais sinais na criança, se for o caso conversar com os educadores na escola ou com pessoas próximas a ela. Tentar entender junto com a criança o que está ocorrendo e ouvi-la mediante suas angustias é a melhor forma de ajudá-la.
AVÉQ: Como a família pode ajudar?
Aline Cristina de Melo: Neste momento é importante que a criança consiga compreender que apesar da separação seus pais permanecerão sendo seus pais e ele poderá contar com ambos em um laço de carinho e amor independente da relação conjugal que estes optarem por ter. Por isso, é importante que os pais evitem expor a criança aos conflitos pertencentes ao casal, visando evitar gerar angustia. Também é importante salientar que os filhos não devem ser usados de modo algum para afetar, chantagear ou oprimir o parceiro e isto se aplica a todos os membros familiares que devem levar a situação de separação com naturalidade evitando tomar partido de um lado ou de outro, pois isso refletirá negativamente na criança.
AVÉQ: E a escola?
Aline Cristina de Melo: A escola pode ser uma área importante para dar parâmetros aos pais sobre como a criança está absorvendo o divórcio. É importante observar com maior atenção junto aos educadores se houve alguma mudança da criança mediante seu rendimento escolar após a separação, o que pode ser associado a dificuldades emocionais em aceitar tal processo ou simplesmente a dificuldades de a criança organizar-se mediante uma nova rotina que lhe foi estabelecida.
AVÉQ: Hoje em dia, a guarda compartilhada é o recomendado pela lei no Brasil. Como os pais devem organizar o cotidiano da criança para que ela não fique confusa com duas casas?
Aline Cristina de Melo: A possibilidade de ter duas casas e duas rotinas pode ser um fator que estimulará a flexibilidade e a capacidade de adaptação na personalidade da criança, desde que o fato seja bem trabalhado e organizado pelos pais. A criança ou adolescente precisa reconhecer seu espaço em ambas as casas, tanto para poder organizar-se melhor como também para sentirem que pertencem de algum modo a cada local.
Uma rotina muito diferente em cada casa pode desorganizar esta criança tanto emocionalmente quanto biologicamente. Diferentes horários para dormir, comer estudar, tomar banho, etc. podem fazer com que a criança não consiga se adaptar e acostumar-se com a mudança. Neste momento, é importante que os pais tenham diálogo e uma convivência saudável e pacífica para acertarem e combinarem os horários para a criança, sendo coerentes nas atitudes e na organização de uma rotina, independente de qual casa ela estiver.
AVÉQ: Se o pai ou a mãe (ou os dois) iniciar um novo relacionamento, como e quando o (a) namorado (a) deve ser apresentado (a)?
Aline Cristina de Melo: Primeiramente é importante que tenha sido desenvolvida com a criança uma relação amigável e verdadeira para que ela sinta-se mais segura diante de qualquer mudança na rotina que seus pais optem por ter. Um novo parceiro (a) pode ser encarado pela criança como um rival, um pretendente a tomar o lugar de uma pessoa insubstituível para ela (o pai ou a mãe), sendo assim, é importante esclarecer que isso não acontecerá e dar tempo ao tempo para a criança se familiarizar com a ideia e com a pessoa. Outro tipo de cenário é a criança reconhecer no novo parceiro (a) da mãe ou do pai a possibilidade de reconstrução de um lar gerando expectativas neste relacionamento. O melhor momento para apresentar um namorado (a) é quando se tem segurança nesta relação e real desejo de permanecer com esta pessoa evitando expor a criança a muitos parceiros, fazendo-a apegar-se a eles, criar expectativas e logo depois vivenciar uma nova angustia de separação e distanciamento pois o relacionamento não deu certo.