Conheça os caminhos que os estudantes brasileiros fazem para chegar até à escola
Carolina Pezzoni, do Promenino, com Cidade Escola Aprendiz
Luana Marques, de 14 anos, estuda em uma escola estadual no centro de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Para chegar lá, vai de uma margem à outra do rio Paraguai de carona em um barco escolar, junto com a Angélica, o Catarino, o Maurício, a Maria Clara, a Rozemary, a Rayane, a Laís, a Luiza e o João Eduardo, seus colegas ribeirinhos. Os adultos dona Joana, a cozinheira, e Zé Catarino, o zelador, os acompanham nessa travessia.
O percurso de Luana e seus amigos até que é breve se comparado ao dos irmãos Joel e Welleton Picolomini da Costa, indígenas da etnia guató, de 11 e 14 anos, que vivem na ilha Ínsua, no Pantanal. Como apurou a equipe do Projeto Infâncias, antes mesmo de o sol nascer, eles precisam começar a preparar os cavalos para percorrer quatro quilômetros até a escola – enquanto suas irmãs preferem ir de bicicleta. As histórias de Luana, Joel e Welleton são apenas uma amostra entre os 4,6 milhões de alunos da rede pública de ensino que vivem na zona rural e precisam de transporte escolar para chegar à escola.
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Esquerda
Além das embarcações, cavalos e bicicletas, caminhonetes, pau de arara e carroças são alguns dos veículos improvisados, muitas vezes precários e perigosos, utilizados para a locomoção desses estudantes. A professora Elisa Vieira, representante da área de educação do campo e indígena na Secretaria de Educação do Pará, conta que além da via terrestre, onde o atendimento ainda é deficiente, o transporte fluvial na região depende das “rabetas” (uma espécie de canoa com motor). “É uma distância que acaba se tornando um martírio para as crianças”, referindo-se às quatro horas que elas costumam levar no trajeto.
Com o conhecimento de quem acompanhou durante quatro anos os professores voluntários do Brasil Alfabetizado e hoje dos programas Saberes da Terra e Escola da Terra, ela enfatiza a importância da mobilização dos gestores municipais para garantir um transporte de qualidade aos alunos da região. “É em função do aluno que buscamos, de todas as formas, garantir a qualidade de vida na sua comunidade ou assentamento”, observa.
Realidade nacional
“Se elas não tiverem o transporte escolar ofertado pelo poder público, não podem frequentar a escola”, afirma o professor José Maria Rodrigues de Souza, coordenador-geral de Apoio à Manutenção Escolar do programa Caminho da Escola, financiado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ao dimensionar a relevância do assunto. Além disso, conforme ele destaca, “o acesso à escola faz parte da garantia do direito à educação”.
De acordo com um levantamento feito em 2006 por pesquisadores da Universidade de Brasília para o FNDE, em torno de 28% dos veículos utilizados para transportar estudantes na zona rural não eram apropriados para levar passageiros. “Eram originalmente construídos para transportar carga”, explica Souza. Outro dado apurado revelou que a carência era mais aguda na região Nordeste, onde a quantidade de veículos inadequados para transporte de escolares chegava a 60% da frota.
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