Dia dos pais: 5 histórias de homens que decidiram trabalhar menos para cuidar dos filhos em casa
Para celebrar o dia dos pais, comemorado no próximo dia 9 agosto. O Catraquinha reuniu histórias de cinco pais que fugiram dos padrões esperados e deixaram seus empregos formais para ficar mais tempo em casa e cuidar dos filhos.
De acordo relatório “Situação da Paternidade no Mundo” desenvolvido pelo Instituto Promundo 80% dos homens no mundo serão pais biológicos em algum momento de suas vidas e 100% deles terão alguma ligação com a vida de crianças, seja como pais, professores, técnicos, tios, padrastos, irmãos ou avós.
Assim como os pais entrevistados, o documento apresenta evidências sobre o impacto positivo do envolvimento do homem no cuidado para a vida de crianças, mulheres e homens, especialmente para a saúde materno-infantil, desenvolvimento cognitivo da criança, empoderamento da mulher, além de impactos positivos para a saúde e bem-estar dos próprios homens.
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Conheça as histórias e inspire-se
Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno, designer. Pai das gêmeas Margarida e Iolanda de dois anos e sete meses
“Faz um ano que tenho sido o cuidador principal das minhas filhas durante a maior parte do dia. Isso por que nos mudamos de São Paulo para o Rio de Janeiro em função de uma proposta irrecusável de emprego para minha esposa Grasi. Nos mudamos e fomos nos adaptando, vivendo um dia após o outro. A Grasi precisava sair pra trabalhar e eu podia trabalhar em casa. Teoricamente isso era bem fácil, mas não foi. Fui descobrindo os horários mais favoráveis e as maneiras de fazer as coisas em casa junto com elas, duas meninas bastante ativas. Então não foi uma decisão imediata. Foi uma circunstância que encaramos juntos.
Quando um pai cuida do seu filho na primeira infância, muitas conexões positivas acontecem. A intimidade vai se desenvolvendo e a confiança e o amor vão se consolidando. Não é só uma questão de desenvolvimento infantil. É o desenvolvimento adulto, do homem, do pai. Quando um pai cuida do seu filho pequeno ele se desenvolve muito como homem, se torna uma pessoa mais sensível e atenta às necessidades do outro, começando por essa pessoinha totalmente indefesa e dependente.
A ampliação da licença paternidade é só o começo. O maior desafio é vencer a barreira cultural. Por que ainda hoje muita gente acha esquisito um pai cuidando dos filhos pequenos, tentando alcançar a mesma desenvoltura de uma mãe. Muita gente acha isso estranho, inclusive eu! É sério. Às vezes eu me sinto muito esquisito por desempenhar esse papel. Na verdade essa esquisitice é rebeldia, um restinho que sobrou da adolescência. Por que obedecer as normas e corresponder as expectativas dos outros? Só eu sei o quanto tenho sorte de cuidar das minhas filhas. Só eu sei o quanto me desenvolvi.
A divulgação de imagens dos homens cuidando dos seus filhos inspira muitas pessoas, mas a mudança profunda é mais complicada. Minha família me vê como uma espécie de herói. Todos demonstram muita admiração pelo meu gesto de cuidar das minhas filhas com tanto empenho”.
Rodrigo conta suas aventuras com as filhas gêmeas na página ‘Diário Ilustrado da Paternidade: As aventuras de Magá, Ioiô & Rodrigo Bueno’
Ricardo Toscani
Ricardo Toscani, fotógrafo e pai da Aline, de seis anos
“Minha relação com o trabalho sempre foi mais tranquila, ser freelancer sempre me pareceu ser a escolha certa. Um dia fui demitido do estúdio onde eu era assistente, era meu emprego ‘freela fixo’, então montei um estúdio em casa e passei a atender meus clientes lá mesmo.
Acabei optando mais pela casa. Gosto de cozinhar, gosto de cuidar da guria, dar banho, levar no ballet, gosto dessa inversão de papeis e acho útil. Quando Lucia, minha esposa estava grávida, eu brincava: “Tu cuida os quatro meses da licença e eu do resto’. Claro que tem muitas vezes que eu clamo por ajuda, acho que estou sobrecarregado, brigamos, fazemos as pazes e tudo volta ao normal. Somos um time, tem jogos que eu tenho mais responsabilidades que o outro, mas criar uma criança 50%, 50% é muita alegria. É fácil eu me definir como um super-pai tendo uma super-mãe ao meu lado.
Acho que a licença paternidade tem que ser ampliada para melhorar esse vínculo entre pai, mãe e filho, para que as responsabilidades sejam definidas e um não fique sobrecarregado. A maioria das brigas de casal que vejo ou as de casa, são por um achar que está fazendo mais que o outro, e achar essa sintonia é difícil.
[tab:Daniel Paccini]
Daniel Paccini, pai da Maisa de cinco anos e seis meses
“Eu sempre fui autônomo trabalhando com vendas e tínhamos uma funcionária que nos ajudava com a Maisa. Porém, esta funcionária foi diagnosticada com câncer e teve se afastar para o tratamento. Assim, decidimos que não seria legal deixar a nossa filha o dia inteiro na escola e então, a saída foi que eu ficasse com ela, usando o período que ela está na escola para realizar meus afazeres.
Eu entendo que o nascimento de um filho é um momento muito especial na vida do casal. Por isso, seria muito importante que a mãe pudesse ter a ajuda do pai durante esse período e a ampliação da licença paternidade seria essencial. Mesmo que o casal tenha condições financeiras para pagar alguém que ajude no trato com o bebê, acredito que seja muito mais importante que o pai o faça. Isso aumenta o vínculo do pai com o filho e aumenta a cumplicidade do casal. Sabemos de muitos relatos de amigos que tiveram bebês e chegam cansados do trabalho (a mãe, por outro lado, também está exausta pois passou o dia com o bebê) e é naquele momento em que dois estão cansados e o bebê a mil por hora que começam as brigas e desentendimentos. A ampliação da licença paternidade certamente seria um beneficio enorme para a criança e para o casal”.
Ike Levi
Ike Levi, fotógrafo, pai da Nina de seis anos e do Tony de um ano
“Iniciei a minha carreira na fotografia em Miami em 1998. Com a chegada da Nina, passei a fotografar a gestação da minha esposa Luciana Mello e outras grávidas. Daí minha carreira mudou de foco e passei a escrever sobre paternidade para a revista Pais & Filhos.
Como sou fotógrafo e minha esposa cantora, nossas agendas são flexíveis e isso ajuda. Quando ela tem show, eu não marco fotos e vice versa. Quando os dois tem trabalho no mesmo dia, recorremos às avós e tem funcionado assim.
Tenho certeza que esse contato próximo aos filhos já reflete na segurança e estímulos das crianças. Acho estranho quando as pessoas perguntam para a Lu se eu ajudo com os filhos. Em minha opinião, não é uma questão de ajuda, sou tão pai quanto ela é mãe. Criamos os filhos juntos. .
Eu troco fraldas, sem me importar com o conteúdo. Dou banho com direito à trilha sonora. A Nina canta Nat King Cole, Chico Buarque, Maria Bethânia, (vovô) Jair Rodrigues, Ivan Lins e outros, graças aos nossos banhos musicais”.
Victor Sarmento
Victor Sarmento, engenheiro agrônomo, pai da Flora de um ano e dez meses
“Depois que casei, fiquei por pouco mais de um ano em emprego em que eu mais viaja do que ficava em casa. Quando minha filha nasceu eu não consegui mais viajar, enrolei por alguns meses, mas chegou um ponto em que eu simplesmente não conseguia ficar longe da minha família.
Junto com essa decisão veio a de estudar para concursos públicos. No entanto, essa parte dos estudos acabou ficando um pouco prejudicada, pois a dedicação à Flora sempre foi muito intensa.
Nos primeiros meses ainda conseguia estudar um pouco mais, pois ela era mais dependente da mãe. Com o avançar dos meses foi ficando mais difícil, pois ela já me requisitava mais, e eu, sinceramente, não ligava nem um pouco, pois é a melhor coisa do mundo escutar ela gritando “papai!” e me chamando para brincar com ela.
Minha esposa é funcionária pública e tem uma grande flexibilidade de horários. Ela precisa estar presente no trabalho duas vezes na semana apenas e nesses dias eu fico com a Flora o dia todo. Optamos por não colocá-la na creche e nem chamar ninguém para ajudar, acreditamos que a responsabilidade de criar e cuidar de um filho é dos pais e somente deles. Às vezes nos sentimos um pouco sobrecarregados com tudo, mas quando olhamos para nossa filha e vemos o quanto ela está se desenvolvendo, percebemos que vale tudo a pena.
Não faria nada diferente do que fiz até o momento. Ainda não estou trabalhando e por isso estou muito presente no cotidiano da minha filha e isso vale mais que qualquer salário. Estava presente quando ela sorriu pela primeira vez, quando ela sentou sozinha, quando começou a se arrastar pela casa, quando começou a andar, quando começou a falar, não perdi nada e isso torna a vida muito especial. E sei que para ela é muito importante também”.