Estudante leva filha de 5 anos para universidade e é assediada por professora
‘Quantas mães não assistiram aula por causa dos seus filhos hoje? Quantas mães não conseguiram emprego por causa dos seus filhos hoje? E quantas mais serão excluídas por serem mães amanhã?’
Perguntas feitas por Nina Biten Court, estudante de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em desabafo, que já alcança quase 13 mil compartilhamentos, em seu perfil nas redes sociais. Nina é mãe de uma menina de cinco anos, Anya, e ingressou na universidade grávida. Na última quinta-feira (31), sofreu assédio por parte de uma professora após entrar para assistir aula em companhia de sua filha.
‘Entrei na sala, dei oi e fui seguindo pra me sentar. A professora me olhou com um ar de incredulidade e, sem sequer me responder o cumprimento, iniciou um sistemático questionário sobre a minha filha: “ELA VAI ENTRAR NA AULA?”; “ELA PODE ASSISTIR AULA?”; “ELA NÃO VAI SE CHATEAR E INCOMODAR A AULA?”; “TU NÃO TEM CRECHE PRA DEIXAR ELA?”; “NENHUM PARENTE PODE FICAR COM ELA PRA TI?”; “TEM CERTEZA”. Respondi pacientemente às perguntas e expliquei que ela estar ali comigo era o modo de garantir minha permanência na universidade’ (trecho do relato)
Com exceção da Lei 6.202/75, que assegura à estudantes grávidas o direito a uma licença-maternidade a partir do oitavo mês de gestação, de três meses, não há nenhuma lei que aborde o caso de mães universitárias com filhos maiores. Em geral, cada universidade tem suas próprias regras. No caso da UFGRS, até hoje, 4 de abril, o Estatuto da universidade não cita o tema em nenhum aspecto.
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De acordo com o relato, mesmo após a explicação da estudante, a professora insistiu em perguntar se ela não teria mesmo outra pessoa com quem deixar a filha, o que levou a estudante, em meio à manifestações de apoio de colegas de classe, a se retirar da sala com a filha para se dirigir à Comissão de Graduação e apresentar queixa.
“Fui até à Comissão de Graduação e, enquanto eu era orientada quanto às medidas cabíveis, a professora apareceu e continuou falando, justificando, se exaltando e repetindo NA FRENTE DA MINHA FILHA o quanto ela estava atrapalhando porque estava BRINCANDO. Não respondi, me dirigi à funcionária da Comissão agradecendo e dizendo que ia abrir o processo por assédio moral e que não tinha mais nada pra falar com a professora.
Ao final da cena, Anya, a criança, estava confusa e se sentindo culpada por ver a mãe saindo da sala de aula. A menina perguntou por que sua mãe fora expulsa da sala, e o que teria feito para deixá-la triste.
A situação pela qual Nina e sua filha passaram, infelizmente, não é uma exceção. São muitos os relatos de estudantes mulheres que enfrentam a mesma dificuldade: não tem com quem deixar os filhos, eventualmente precisam levá-los à universidade, e são assediadas e discriminadas por conta disso.
Em outubro do ano passado, por exemplo, uma estudante de Direito sofreu constrangimento e recebeu uma suspensão após levar sua filha à faculdade, a Uninove, Campus Santo Amaro, em São Paulo.
Criar um ambiente que acolha e dê suporte à estudantes com filhos pequenos ainda é um desafio para as universidades brasileiras, e, claro, principalmente para as famílias. O direito à creche na universidade é uma das bandeiras de luta das entidades que representam o movimento estudantil, mas poucas são as universidades que proporcionam esse recurso às estudantes.
‘A maternidade e o quanto ela causa a exclusão da mulher no mercado de trabalho, na escola e na universidade é uma pauta que grita por visibilidade dentro dos movimentos sociais. Eu vou perder a cadeira, não tem condições de seguir assistindo aula com uma pessoa dessas. O que alguém assim pode me ensinar’
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Com informações do Huffpost Brasil.