Mãe vira ‘pai’ em atividade na escola do filho. Isso está certo?
Ao chegar no estacionamento da escola de seu filho, Elijah, Yvette Vasquez, que mora no Texas, EUA, notou que haviam mais carros no estacionamento do que de costume. O filho, então, contou à mãe que naquele dia aconteceria o “Donuts with Dads” (“Donuts com pais”, em tradução livre), um evento promovido pela escola para que as crianças aproveitassem um almoço com seus pais. Yvette, que é mãe solo, então, se fantasiou de “pai”, colocando uma camisa xadrez, um boné e um bigode, e foi à escola participar da celebração ao lado de seu filho.
Pelas fotos dá para ver que Elijah estava realmente contente com a presença da mãe no evento. Apesar disso, nem todas as famílias têm tanto jogo de cintura para lidar com situações como essa, ao mesmo tempo em que existe cada vez mais diversidade na formação das famílias no Brasil e no mundo. São mães e pais que criam seus filhos sozinhos, avós ou então famílias formadas por casais homossexuais.
Muitas escolas brasileiras, por exemplo, já abriram mão das comemorações tradicionais de “Dia dos pais” e “Dia das mães” e criaram o “Dia das famílias”. A Escola Municipal de Educação Infantil Dalmo do Valle Nogueira, no bairro Vila Sônia, em São Paulo, é uma delas. Em post no Facebook da instituição, os motivos da decisão foram expostos:
Prezadas famílias,
Em mais um ano de bastante discussão, a escola resolveu não realizar eventos nas tradicionais “datas comemorativas” (páscoa, dia das mães, dia dos pais, natal, etc). Achamos importante dividir com vocês algumas razões:
1) As datas comemorativas foram tomadas por um aspecto muito comercial (compras, presentes, consumo) e reforçar essa ideia (do carinho estar necessariamente ligado ao presente) não faz parte dos nossos objetivos;
2) Dia das mães e dia dos pais desconsideram a diversidade das famílias existentes. Tem família que não tem mãe presente, família que não tem pai, famílias dos mais variados tipos. Por que dar tanto valor para o dia das mães e dos pais sabendo que não corresponde à realidade de todas nossas crianças? Não seria muito melhor fazer “dia da família”? Achamos que sim!
3) A escola pública é laica e não professa nenhum credo, respeitando a pluralidade de religiões de nosso povo. Portanto, datas comemorativas cristãs não serão tema do nosso dia a dia por também considerarmos que a religião é da intimidade de cada família e deve ser tratada em casa.
4) Algumas festas insistem em colocar as crianças em “apresentações” que acabam se tornando uma tortura para professoras e crianças: ensaios, vergonha de participar e se apresentar, tristeza pela ausência de um familiar na apresentação, choro… Podemos brincar muito de cantar e dançar na escola sem ter que passar por momentos como esse. A intenção da apresentação tem q surgir da própria criança, e não somente responder a um desejo do adulto.
A nossa escola é espaço de cultura brasileira e trabalharemos para ampliar o repertório de todas as crianças, sem discriminação e exclusões. Todas as famílias são bem vindas nos eventos abertos e também para conhecer o nosso trabalho, que busca trazer novidades e conhecimentos, sempre respeitando as crianças pequenas e seu modo vivo e alegre de ser.
Atenciosamente,
Emei Des. Dalmo do Valle Nogueira
Será que não está na hora das escolas abraçarem essa diversidade e acolherem todas as famílias?
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