O que fazer quando a escola naturaliza o racismo e a escravidão?
Um post compartilhado há cerca de um ano por uma mãe em seu Facebook voltou à tona ontem. No post, Priscila Hirle, uma médica carioca, comenta sobre uma proposta da lição de casa que seu filho, na época com nove anos, recebeu da escola onde estudava: “Se você fosse um escravo, que tipo de trabalho você gostaria de fazer: no engenho ou doméstico?”, e a resposta da criança: ‘Nenhum'”.
Em comentário recente sobre a situação, também em seu Facebook, Priscila Hirle relatou que chegou a conversar com a diretora da instituição por conta da situação, mas que optou por trocar o filho de escola. À época, a educadora teria informado Priscila de que a lição teria sido “uma abordagem da professora dentro do contexto da escravidão e que as crianças estavam alegres discutindo o tema pois foi uma brincadeira”.
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Quando a escola naturaliza o racismo e a escravidão
Para a Ana Cristina Juvenal da Cruz, docente da UFSCar ( Universidade Federal de São Carlos) no Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas atuando no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e no Grupo de Estudos sobre a Criança, a Infância e a Educação Infantil, o caso vivido por Priscila reflete práticas educativas que ainda são realizadas em contextos escolares em todo o Brasil e que, sim, naturalizam a escravidão e o racismo. A acadêmica explica que ‘naturalizar a escravidão’ significa abordar o tema sem problematizá-lo.
“Afirmar que é uma ‘brincadeira’ demonstra o não conhecimento do quanto isso é nocivo. Não há ‘brincadeira’ e nem positividade em nenhum aspecto da escravidão negra no Brasil e na diáspora africana. Isso deve pautar a postura de qualquer, pessoa e qualquer profissional, especialmente os que trabalham com educação”, disse.
Formação de professores para combater o racismo na escola
Na opinião de Ana Cristina, situações como essa, também mostram a formação inadequada de alguns profissionais da educação para tratar de determinados temas, no caso, o racismo.
“Nós temos sim que discutir e estudar a escravidão negra no Brasil e como sua longa duração é constitutiva do racismo que estrutura a sociedade brasileira ainda hoje. É importante que os profissionais que atuam na escola constantemente questionem suas práticas pedagógicas e tomem como ponto de partida fundamental que não é natural e nem normal nenhuma prática dessa natureza”, afirma.
“O racismo é real e cotidiano na vida das pessoas. Ele deriva da escravidão. É importante reconhecer o modo como o racismo opera, isso vai além das posturas e interpretações pessoais, as pessoas mesmo que individualmente não se vejam como racistas operam no interior dessa lógica que estrutura as relações”, finaliza.
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