5 vezes que Bolsonaro bancou o malandrão em seu discurso na ONU
Os 800 dólares foram só o início da realidade paralela que o presidente tentou passar aos líderes do mundo; Confira:
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) discursou, nesta terça-feira, 21, na abertura da 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e bancou o malandrão distorcendo diversos fatos da realidade atual brasileira ao falar para líderes de todo o mundo.
Elencamos 5 momentos, em que o presidente, para mostrar ao mundo uma pose de que tem um bom governo, faltou com a verdade, ou com o senso de ridículo.
1 – Auxílio emergencial de 800 dólares
“No Brasil, para atender aqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos e que perderam sua renda, concedemos um auxílio emergencial de US$ 800 para 68 milhões de pessoas em 2020”, afirmou Bolsonaro.
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Se a gente converte os 800 dólares, citados por Bolsonaro, para o real, no câmbio atual, teremos algo em torno de R$ 4.000,00. O presidente foi malandro porque, em momento algum, aos líderes mundiais, ele disse que durante um ano, 4 mil reais quer dizer uma renda de pouco mais de R$ 300,00 por mês e que com esse dinheiro, no Brasil, não dá pra comprar nem uma única cesta básica.
Levantamento mensal feito pelo Núcleo de Inteligência e Pesquisas do Procon-SP em convênio com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que em julho o custo da cesta básica paulistana chegou a R$ 1.064,79.
2 – Geração de empregos
Ainda no campo renda, Bolsonaro disse: “Lembro que terminamos 2020, ano da pandemia, com mais empregos formais do que em dezembro de 2019, graças às ações do nosso governo com programas de manutenção de emprego e renda que nos custaram cerca de US$ 40 bilhões”.
“Somente nos primeiros 7 meses desse ano, criamos aproximadamente 1 milhão e 800 mil novos empregos. Lembro ainda que o nosso crescimento para 2021 está estimado em 5%”, continuou Bolsonaro.
O presidente não falou sobre seu governo bater recorde atrás de recorde de desemprego.
A taxa de desemprego no Brasil ficou em 14,6% no trimestre encerrado em maio, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso representa um contingente de 14,8 milhões de pessoas buscando trabalho no país.
Ainda de acordo com o IBGE, esta foi a segunda maior taxa de desemprego da série histórica, iniciada em 2012. O recorde anterior também pertence ao governo Bolsonaro, quando 14,7%, foi registrado nos dois trimestres imediatamente anteriores, fechados em março e abril.
3 – Dois anos sem corrupção no Brasil
Bolsonaro disse que o Brasil “mudou” após a sua chegada à Presidência da República não há corrupção no governo.
“O Brasil mudou, e muito, depois que assumimos o governo em janeiro de 2019. Estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção”.
A CPI da Covid, instalada no Senado Federal, investiga diversos escândalos de corrupção. Compra superfaturada de vacinas, conluio do governo com estudo clandestino sobre eficácia de cloroquina. Isso sem falar no envolvimento direto de Bolsonaro nas rachadinhas.
4 – Maior manifestação de nossa história
Bolsonaro citou as manifestações em favor do governo que ocorreram no 7 de Setembro, enquanto fazia ameaças golpistas ao Supremo Tribunal Federal (STF).
No 7 de setembro, o presidente chegou a dizer que não cumpriria mais decisões do ministro Alexandre de Moraes. “Dizer a vocês, que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou, ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais.”
Na ONU, Bolsonaro afirmou: “No último 7 de setembro, data de nossa Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história, mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo”.
Porém, os atos de 7 de Setembro, chamados pelo presidente com mais de dois meses de antecedência, não foram os maiores já registrados no país.
É verdade que não há um balanço nacional sobre o tamanho de todas as manifestações já realizadas, nem mesmo num período recente, mas as imagens registradas no dia mostraram um protesto muito menor em número de participantes do que as manifestações que pediam o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, por exemplo.
5 – Defesa de tratamento precoce contra covid-19
“Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina. Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off-label”, defendeu Bolsonaro.
“Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial. A história e a ciência saberão responsabilizar a todos”, ressaltou o presidente.
Bolsonaro defende tratamento precoce desde o início da pandemia, por meio do uso de medicamentos como cloroquina e ivermectina. Porém não estudos científicos já comprovaram a ineficácia desses remédios contra o novo coronavírus.
Além disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) diz que a cloroquina não deve ser usada como forma de prevenção, a Associação Médica Brasileira (AMB) diz que o uso de cloroquina e outros remédios sem eficácia contra Covid deve ser banido e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) diz que a cloroquina não tem efeito e deve ser abandonada.