80 tiros: ‘Querem transformar a vítima em agressor’, diz promotoria
Segundo a promotora do caso, os réus quiseram transformar "a vítima em agressor, no intuito de tentar justificar" os 80 disparos
A promotora do Ministério Público da Justiça Militar (MPM), Najla Nassif Palma, acusa 12 militares envolvidos na morte do músico Evaldo Rosa dos Santos e do catador Luciano Macedo, em Guadalupe, na Zona Norte do Rio de Janeiro, em abril deste ano, de tentarem ‘transformar a vítima em agressor’. O caso ficou conhecido como 80 tiros, por ter essa quantidade de disparos marcados no carro em que Evaldo estava com sua família.
Os militares prestaram depoimento à Justiça Militar, entre segunda-feira, 16, e terça-feira, 17. Segundo a promotora, os militares mudaram suas versões para incriminar as vítimas. “O que a gente viu foi uma construção que a defesa orientou. Todos dizendo basicamente a mesma coisa e transformando a vítima em agressor, no intuito de tentar justificar esses disparos deflagrados, sem que tenha acontecido uma agressão no momento”, salientou a promotora do MPM.
O advogado dos réus, Paulo Henrique Pinto de Melo, afirmou que os disparos foram feitos porque os militares identificaram que o catador estaria com uma arma e teria atirado contra eles.
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A estratégia usada pela defesa foi desqualificar o catador Luciano Macedo, que foi morto durante a ação, dizendo que ele e sua esposa seriam integrantes de uma quadrilha que controla a região.
“O dito catador [Luciano] é comprovadamente uma pessoa condenada pelo crime do 157, com decisão transitado e julgado. E a senhora que disse ser sua esposa, sequer declarou seu endereço em juízo. Ela declarou aqui que ela e o senhor Luciano já foram presos anteriormente, pelo crime de tráfico de drogas. Então, nós não podemos encarar esse caso como se nós estivéssemos em um grande conto de fadas”, declarou Pinto de Melo.
O Ministério Público Militar refuta a versão dos militares e lembra que testemunhas disseram que Luciano se aproximou do carro do músico Evaldo para ajudar e não para atirar.
“Não temos nenhuma arma encontrada com ele. O carrinho dele estava ao lado e nós não temos nenhum estojo deflagrado no chão. Isso afasta, com provas, toda essa argumentação da defesa”, disse Najla Nassif Palma.
O Ministério Público Militar acusa os militares por tentativa de homicídio, homicídio qualificado e omissão de socorro.
Entenda o caso:
A ação do Exército aconteceu em sete de abril de 2019, era um domingo. A Polícia Civil realizou uma perícia logo após o ataque e apontou que o Ford Ka branco de uma família, que ia para um chá de bebê, foi alvejado 83 vezes.
Depois, a Polícia Judiciária Militar realizou uma nova perícia que apontou 257 tiros de fuzil e pistola durante a ação.
O músico e segurança Evaldo dos Santos Rosa morreu no carro, onde estavam ainda seu sogro, Sérgio Gonçalves de Araújo; a enfermeira e esposa de Evaldo, Luciana Oliveira; o filho de 7 anos de Evaldo e Luciana; e uma afilhada do casal, de 13 anos.
O catador, Luciano Macedo, foi alvejado ao tentar prestar socorro, chegou a ser internado e morreu no dia 17 de abril de 2019. Sérgio Gonçalves foi ferido e levado ao hospital.
Julgamento
O julgamento dos militares deverá acontecer em seis meses.
Com o fim da fase de depoimentos na terça-feira, 17, as partes envolvidas poderão pedir novas investigações para a produção de outras provas. Após esta fase, a juíza abrirá um novo prazo para que a acusação e a defesa apresentem suas alegações finais por escrito. A fase final contará com a defesa oral dos acusados e o julgamento.
A decisão final será tomada por um júri formado por um conselho militar e a juíza federal Mariana Queiroz Aquino Campos.
Segundo a promotora, a audiência de julgamento deve ocorrer antes de julho de 2020.
Até a decisão final, todos os réus responderão ao processo em liberdade, por força de um habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal Militar (STM).
Com informações do portal ‘G1’.