A educação profissional
O Brasil vive o apagão de mão de obra onde as empresas não encontram no mercado trabalhadores na quantidade e na qualidade desejadas.
Agravando o problema, o número de jovens de 18 a 24 anos que estão em alguma instituição de ensino formal vem caindo nos últimos anos (caiu 7,3% entre 2006 a 2008, de 7,5 milhões para 6,9 milhões). Isto se dá pelo começo da redução da chamada onda jovem onde observamos queda de 3,5% do número absoluto da população nesta faixa. Além disso, o estudante tem sido atraído pelo canto do mercado de trabalho, caindo a proporção em escolarização formal de 4%, reforçando o apagão.
Na corrida de obstáculos entre oferta e demanda de e por trabalhadores mais qualificados, a educação profissional desempenha papel central pois além de ser de prazo mais curto e permitir maior facilidade de conciliar trabalho e estudo, ela se volta mais diretamente às necessidades e nichos dos diferentes negócios. A educação profissional tem sido muitas vezes considerada uma alternativa de segunda classe em prol de um ensino médio genérico que tenta fazer muito com pouca qualidade e foco, com dificuldade de atração dos jovens. Já o ensino superior percebido como uma espécie de primeira divisão do ensino profissional, é inalcançável para a maioria.
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O desinteresse acerca da formação profissionalizante também está presente na avaliação dos impactos dos programas existentes que não dá conta da diversa matiz de cursos onde o prêmio salarial dos cursos de educação profissional varia de 1,4% a 27%, já controlados pela educação formal. Não se pode dizer que os prêmios são altos ou baixos. Isto vai depender da área e do tipo de curso fornecido e das necessidades específicas de cada um. O resultado desta desinformação são políticas e mercados educacionais e de trabalho relativamente desconectados sobre os percalços e potenciais ganhos das diversidades de alternativas profissionalizantes existentes. Entre os diversos participantes dos cursos de educação profissional podemos citar as instituições de ensino que, na analogia da corrida educacional, incluiria clubes, técnicos, preparadores físicos desde as divisões de base até chegar ao nível profissional. O estado ainda tem o seu papel de regulador (juízes e federações). Mas quem decide a corrida é sem dúvida o estudante; mal comparando sem atletas bem formados e motivados a competição é sempre perdida.
O desafio é fazer o estudante enxergar, por meio de indicadores de fácil interpretação, os prêmios da opção preferencial por mais educação nas suas diversas vertentes. É preciso qualificar a demanda por educação em geral e a educação profissional em particular.
Essa é a linha da pesquisa que será lançada amanhã pela FGV em parceria com o Instituto Votorantim no MAM em São Paulo. O site www.fgv.br/cps/proedu informará ao estudante em potencial como o mercado de trabalho tem remunerado diferentes escolhas educacionais.
Concretamente falamos de respostas diretas a questões como, por exemplo, o que os diferentes cursos de educação profissional proporcionam de fato em termos de ganhos salariais? E na empregabilidade? Que curso garante maior qualidade do posto de trabalho conquistado? Qual o impacto do curso tecnólogo vis a vis o técnico de nível médio? E nos cursos básicos de qualificação profissional, o que alavanca mais é o de informática ou o de gestão?
Em que é melhor investir, na educação profissional, na educação formal ou uma combinação das duas? O que dá mais retorno, cursos diurnos ou noturnos? Presenciais ou a distância? Privados, públicos ou do sistema S? Há efeito-diploma profissional? quem termina os cursos tem ganhos adicionais? E assim por diante.
A pesquisa usa as ferramentas da informática e da internet para fazer esta informação chegar às especificidades de cada um por meio de simuladores e panoramas. A nova safra de microdados explorada permite traçar detalhadas fotografias das conexões entre as corridas educacionais e a trabalhista nos detalhes da educação profissional cobrindo o auge do apagão de mão de obra pregresso, o período de crise até a possível volta do apagão já em 2010.
Além disso, mensura-se as consequências percebidas do curso em termos de mercado de trabalho, o objetivo último da educação profissional. Como o egresso dos cursos profissionais vê o impacto deles na sua vida. Apresentamos, evidências objetivas de alguns aspectos subjetivos associados a esta passagem da educação profissional ao mundo do trabalho. Isto inclui perguntas sobre o uso, ou não, dos conhecimentos adquiridos no curso na carreira profissional e as razões percebidas tanto para sua utilização quanto para sua não utilização. Nada como saber dos próprios sobre os fatores de fracasso e os segredos do sucesso trabalhista de cada um.
Marcelo Côrtes Neri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais e professor da Fundação Getulio Vargas. Artigo publicado no jornal Valor Econômico.