A feira do lixo é um barato
Visitamos uma feira de gestão de resíduos sólidos e descobrimos que o mercado do lixo é maior do que a maioria das pessoas pensa; conheça algumas das inovações apresentadas
Os corredores são limpos e a luz é branca, assim como as divisórias que separam os estandes e boxes onde homens engravatados e mulheres loiras de sorrisos também brancos oferecem bebidas e aperitivos. O ambiente quase não remete ao conteúdo da feira que acontece no Transamérica Expo Center, enorme galpão na zona sul de São Paulo. Não fossem os caminhões, máquinas trituradoras, ímãs e lixeiras presentes, quase não seria possível identificar que no local acontecia um evento internacional de gestão de resíduos sólidos. A feira do lixo.
Pela segunda vez no Brasil, a feira RWM reuniu cerca de 100 expositores durante os dias 9 e 10 de setembro. O objetivo era apresentar as novas tecnologias e soluções do setor de gestão de resíduos, em sua maioria vindas da Europa, a empresários e gestores públicos daqui e de fora. “Tem gente até da Gâmbia”, diz Jesus Gomes, o diretor da feira.
E o setor é realmente abrangente. Em cinco minutos de caminhada é possível presenciar um solidificador de chorume em ação, ver o interior de um caminhão basculante e, por um computador, acompanhar em tempo real a coleta seletiva de Jundiaí. Por todo lado, máquinas, produtos e serviços são vendidos a representantes comerciais e do poder público.
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O evento chega ao país em meio a um momento de mercado agitado. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada em 2010, previa uma série de medidas que deveriam ter sido tomadas pelas prefeituras brasileiras nos últimos quatro anos para que todos os lixões a céu aberto do país fossem substituídos por aterros, mas a maioria das cidades ainda destina seu lixo a locais impróprios.
Por sorte, as soluções parecem ser variadas. “Aqui o mercado é diferente”, diz Carina Arita, diretora comercial da Tomra Sorting Recycling, empresa que fabrica um separador óptico de lixo. “A legislação brasileira prevê a participação de cooperativas no tratamento dos recicláveis, mas elas não dão conta sozinhas. Nossa meta é trazer equipamentos que possam ajudá-las.”
Para a organização, o saldo da feira é positivo. “Nós percebemos que existe uma preocupação geral com o tema”, diz Jesus Gomes. “E não só com a gestão em si. As pessoas estão começando a pensar em produzir menos lixo e em utilizar o que elas já produzem para gerar energia”.
Boas ideias para o lixo
Separamos os cinco melhores produtos, serviços e invenções presentes na feira para você ter uma ideia de como foi o evento.
Solidificador de chorume
Criado pela empresa brasileira Gerais, o pó branco chamado Ultra Solid não impressiona até que alguém demonstre como ele funciona. Seu efeito sobre líquidos é semelhante a uma esponja e seus grãos aumentam quando entram em contato com a substância que devem absorver. O produto foi pensado para solidificar líquidos ou semissólidos como água, lodo, chorume, esgotos em geral, sangue, urina e até fezes. O resultado final é uma espécie de algodão molhado e granulado, inodoro e não tóxico.
Triturador de fios
Tudo pode ser triturado. É isso que se aprende ao andar pela feira e conhecer uma série de máquinas gigantes e barulhentas que transformam pedras, madeiras, plásticos e metais em pedaços pequenos. A trituração é uma etapa importante tanto para a reciclagem quanto para o processo chamado waste-to-energy, em que os resíduos sólidos, depois de tratados, são utilizados para a produção de energia térmica ou elétrica. A recicladora de fios de cobre fabricada pela Komplet é um exemplo. Os fios elétricos são separados e triturados. O resultado são dois compartimentos, um com pó de plástico outro com pó de cobre. Ambos podem ser reutilizados.
Separador óptico de lixo
Atraindo a atenção de quem passa, a máquina gigante TITECH, da Tomra Sorting Recycling, lança pedaços de plástico pelo ar. Na verdade, tudo faz parte de um processo de separação de lixo em que, inicialmente, um sensor infravermelho percebe as cores e os tipos de lixo que passam por uma esteira. Depois de identificá-los, a máquina pode ser programada para separar um ou vários tipos dos demais. Assim, os escolhidos são soprados para compartimentos diferentes com rajadas de ar em uma esteira. O processo é semelhante ao utilizado em estações de coleta por trabalhadores de cooperativas, embora muito mais eficiente. A intenção da empresa é agregar tecnologia ao trabalho já existente.
Tratamento da água do chorume
No aterro sanitário de São Gonçalo – RJ funciona uma estação de tratamento inovadora. Um contêiner localizado ao lado do depósito de lixo suga o chorume do aterro e aplica nele uma filtragem conhecida como osmose inversa. Como resultado, 80 mil litros de água pura, destilada, são gerados por dia. Agora, o desafio da AST, empresa responsável pelo tratamento, é descobrir um destino para toda essa água.
Sistema rastreamento de descartes
O descarte irregular de resíduos é um dos fatores mais prejudiciais ao meio ambiente. Principalmente quando os resíduos em questão são da construção civil. O Coletas Online é um software desenvolvido para prefeituras que tem como objetivo identificar, fiscalizar e controlar em tempo real o descarte desse tipo de lixo. O sistema permite que os materiais sejam rastreados, de forma que o destino seja o predeterminado pela legislação local. O sistema já funciona em cidades do interior de São Paulo, como Jundiaí e são José dos Campos.