‘A situação é o pior cenário que alguém poderia imaginar’, diz fotógrafo ucraniano à Catraca Livre

Yev Tseluiko, de 30 anos, mora hoje na Lituânia, mas vive o drama de acompanhar a família e os amigos se escondendo dos bombardeios que atingem a Ucrânia

24/02/2022 14:18

O conflito entre Rússia e Ucrânia, iniciado na madrugada desta quinta-feira, 24, após declarações contundentes do presidente da Rússia, Vladimir Putin, está preocupando o mundo e deixando ucranianos residentes de outros países em total situação de impotência e fragilidade.

O fotógrafo e intérprete ucraniano, Yev Tseluiko, de 30 anos, conversou com a Catraca Livre e contou como tem sido este dia para ele e sua família. Tseluiko, que vive há dois anos na Lituânia (país localizado ao noroeste da Bielorrússia, fronteirista com a Ucrânia), e há sete longe de seu país natal, esteve em contato com sua mãe, moradora da cidade ucraniana de Kharkiv, e com alguns amigos, e disse que a situação “é pior do que o pior cenário que alguém poderia imaginar”.

5 pontos cruciais para entender o conflito entre Rússia e Ucrânia

Yevi Tseluiko, fotógrafo ucraniano conversa com a Catraca Livre sobre a guerra que atinge seu país
Yevi Tseluiko, fotógrafo ucraniano conversa com a Catraca Livre sobre a guerra que atinge seu país - Arquivo Pessoal

“Todos com quem falei hoje têm sentimentos em comum: impotência, raiva e incapacidade de mudar qualquer coisa”, relata Tseluiko. “Minha mãe ouviu bombas, aviões e alguns mísseis. Ela disse que as ruas estão vazias, e que muita gente já saiu da cidade. Ela chegou a estocar um pouco de comida, e me contou que as pessoas estão loucas nos supermercados”. A cidade de Kharkiv é a segunda maior do país, e muitos dos ataques realizados pela Rússia foram ouvidos, vistos e sentidos pela população local.

Apesar da corrida da população para deixar a Ucrânia, o fotógrafo lembra que o país tem grande extensão territorial (chega a ser um pouco maior do que o território da França, em termos de comparação), e que não é tão simples sair em debandada. “Muita gente quer sair da Ucrânia, mas é muito difícil por causa do tamanho do país, e no momento é mais seguro ficar nas grandes cidades. Eu sei que eles abriram todas as bases em prédios residenciais, algumas pessoas estão se escondendo no metrô, e elas ouvem o alerta aéreo constantemente”, contou.

Quando questionado sobre a decisão de Vladimir Putin em atacar a Ucrânia, Tseluiko é categórico ao afirmar que a guerra só interessa ao próprio Putin. “Acho que aquele cara no poder ficou louco. A maioria das pessoas na Rússia não precisa dessa guerra e não quer ser representada no mundo como agressora. Eles também entendem o tipo de consequências que irão experimentar. Russos e ucranianos são nações muito próximas, mas a propaganda russa tenta convencer a população de que a Ucrânia é governada por fascistas e nacionalistas. Claro que nada disso é verdade e cada vez menos as pessoas acreditam no que veem na TV. Principalmente, trata-se de uma guerra para uma pessoa: para o presidente Putin.”, disse.

(imagens feitas pelo fotógrafo Alex Lourie na cidade de Chuhuiv, próxima a Kharkiv, e compartilhadas por Yevi Tseluiko no Instagram) 👇

Com relação a Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, o fotógrafo considera que sua posição foi “sábia”. “Ele espera que todo o mundo civilizado o apoie. Ele não fugiu do país, e a mensagem mais importante que ele deixou é bem clara: ‘queremos paz’. A Ucrânia não precisa dessa guerra, nós não a começamos. Eles entraram em nossa casa e estamos prontos para nos defender neste caso. Não é uma decisão fácil de tomar. Mas, caso a Ucrânia se renda agora, nada pode impedir o insano presidente da Rússia de avançar e atacar os países bálticos, por exemplo. Agora é uma questão de segurança para toda a Europa”, relatou Tseluiko, finalizando sua opinião com um pedido: “Paz para a Ucrânia!”.

Quando questionado se tem esperanças de que a guerra termine logo, o fotógrafo não hesitou: “é tudo o que podemos esperar agora”.