A vida das mulheres no Catar sob o olhar de uma brasileira
Considerada uma das nações árabes mais liberais nas causas femininas, o país ainda tem desafios para serem superados pelas mulheres
Quando falei que viria morar no Catar, algumas pessoas estranharam por ser um país árabe e mulçumano. Achavam que eu estaria limitada para fazer qualquer coisa, que meu modo de me vestir teria que ser drasticamente mudado, que seria perigoso andar sozinha… Enfim, várias dúvidas e um certo preconceito por ter uma visão bem simplista do que seria viver em uma cultura tão diferente da que estamos acostumados no ocidente.
Para mim, essa mudança não alterou quase nada minha rotina ou meus hábitos. Tenho a mesma independência de ir e vir que tinha no Brasil, dirijo meu carro, minhas roupas tiveram adaptações, mas foram mais em questão de comprimento, nada que eu não usaria se morasse no Brasil. Saio com minha família e tenho minhas noites para sair com as amigas para bares e lugares para dançar. Parece até estranho ler isso, mas essa é a realidade aqui.
O Catar tem uma influência muito forte nos direitos das mulheres, liderado pela Sheikha Moza Bint Nasser (a segunda das três esposas do Sheikh Hamad bin Khalifa Al Thani e mãe do príncipe governante, o Emir Tamin bin Hamad al Thani). Moza tem um papel fundamental na política do país através da sua luta pelo acesso de crianças à educação. Esse trabalho é realizado pela sua fundação, a Educate a Child.
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Outra conquista liderada por ela foi colocar o Catar como um dos países árabes mais liberais em termos de direitos das mulheres. Aqui, elas têm o direito ao voto, dirigir e de se vestir de maneira não tão rigorosa quanto em países vizinhos. Outro direito conquistado pelas mulheres é de poder fazer parte do gabinete de ministros do país.
Recentemente, muitas mulheres estão vindo trabalhar aqui não só pela Copa do Mundo, mas também em outros setores. Martha Tebyriçá Ramos, de 39 anos, está aqui em Doha (capital do Catar) há mais de um ano. Ela também já morou em Abu Dhabi e visitou outros países do Oriente. Tendo vivido no Rio de Janeiro, seu maior choque foi vir morar em um país pequeno, onde embora tenha diversas facilidades os entraves com a burocracia local dificultaram sua adaptação aqui.
Martha trabalha como produtora de eventos para o Q22 e diz que esperava encontrar um machismo muito forte ao vir para cá. “Me senti super confortável. Trabalho basicamente com pessoas cataris, mais homens que mulheres, e me sinto super respeitada por eles”, conta. Ela diz ter mais problemas com os homens de outras nacionalidades, por estarem em um país que eles julgam ser machista, entendem que podem ser machistas e dar uma maior abertura para este sentimento aflorar.
Sobre hábitos, Martha diz que teve dois desafios. O primeiro foi mudar um pouco seu modo de se vestir e o segundo foi lidar com as restrições com as demonstrações de afeto em público. “Isso para uma mulher solteira é difícil, porque não tem como você se relacionar com uma pessoa dando um beijo nele em um bar. Você tem que ir para casa, sem às vezes conhecer a pessoa totalmente.”
Por outro lado, Aishah Helal, de 30 anos, diz que mesmo tendo nascido na Arábia Saudita e agora vivendo no Catar não vê muita diferença, principalmente quando se trata das mulheres, apenas algumas pequenas mudanças nas tradições de um país para o outro.
Trabalhando como Coordenadora de Serviços ao Espectador, no estádio de Lusail, Aishah conta que, por ela ser muçulmana, não enfrentou nenhum problema com os colegas ocidentais que compõem sua equipe. “Eu respeito cada um deles, não importam quais sejam suas crenças ou origens, então peço respeito mútuo”.
Acredito que por mais que estejamos em um local com crença, hábitos e costumes diferentes dos nossos, não há motivos que justifiquem certos receios que não existem mais. A liberdade e o respeito pela mulher existem sim aqui no Catar, como em qualquer outra parte do mundo. Para as mulheres que estão vindo visitar o país durante a Copa do Mundo, venham sem temores e aproveitem tudo o que puderem por aqui.
*Juliana Lauar é jornalista que se mudou, há dois anos, para o Catar movida pelo calendário da Copa do Mundo.