Abusada, mulher vira policial e prende homem que a estuprou
A vítima tinha 9 anos quando as agressões começaram
Violentada sexualmente na infância por um amigo da família, uma policial de Santa Catarina conseguiu prender, 14 anos depois do último abuso, o homem que a estuprou durante mais de dois anos.
O fotógrafo, condenado pelo crime, foi detido em 2016, mas a agente resolveu contar a história publicamente agora, como uma forma de encorajar outras mulheres a denunciar seus agressores.
À BBC Brasil, a policial relatou que tinha 9 anos quando os abusos começaram. Seu agressor tinha 36, na época.
“Ele se aproximava e ficava passando a mão em mim. Eu não entendia. Aquilo me incomodava, mas eu não via o caráter criminoso naquilo que ele estava fazendo. Não falei nada para a minha família, até hoje não sei dizer o porquê”, contou ela.
A vítima disse que a maior parte dos estupros aconteciam durante momentos de lazer entre sua família e a do agressor, que era casado. Eles costumavam acampar juntos nos fins de semana de verão.
Ela diz que sentia vontade de falar para o pai sobre o que estava acontecendo, mas tinha receio porque ele “sempre foi muito estressado, pilhado. Eu tinha medo que ele pudesse matar ele [o estuprador], ir preso. Começam a passar mil coisas na cabeça de uma criança. E também tem o receio de que seus pais não vão acreditar no que você está passando”, desabafou.
Como era íntimo da família, o fotógrafo sabia os horários em que a vítima estava sozinha e aproveitava para agredi-la.
“Ele dizia: ‘só um pouquinho, só um pouquinho’. Ele nunca me agrediu com tapas, mas me segurava à força, mesmo eu sendo uma menina grande para a minha idade”, lembra.
A policial revelou o caso para um familiar pela primeira vez em 2006, quando desabafou sobre a violência sofrida à irmã mais velha.
“Quando contei, ela entrou numa crise de choro desesperadora. Imediatamente, ela ligou para o meu pai, que já era divorciado da minha mãe havia dois anos. Até hoje eu fico com um arrependimento de fazer as pessoas sofrerem tanto. Eu fico pensando se valeu a pena contar”, falou.
Os abusos duraram dois anos e meio e só terminaram depois que um envolvimento entre o pai da vítima e a mulher do agressor vieram à tona, pondo um fim à amizade deles.
Em 2008, quando tinha 16 anos, ela contou a história para uma amiga, que relatou o caso para a mãe, que, por coincidência, conhecia o agressor e chamou a jovem para conversar. Lá, a mulher ficou sabendo de outras vítimas de seu algoz.
O caso foi parar na Justiça sete anos depois, quando ela resolveu denunciá-lo. Uma investigação chegou a ser instaurada, mas não teve prosseguimento.
Quatro anos depois, o inquérito foi parar no Ministério Público e a policial conseguiu encontrar uma outra vítima do homem, e convenceu-a a depôr contra ele.
Após o novo depoimento, a Promotoria entendeu que o criminoso tinha um histórico de abusos e, finalmente, o denunciou por pedofilia.
Em dezembro de 2016, o homem foi preso, condenado a 7 anos e 6 meses de prisão. Nessa época, a jovem já era policial civil e foi, ela mesma, executar o mandado de detenção.
“No dia 22 de dezembro de 2016, pedi apoio, fomos em oito ou dez policiais até que o localizamos e executamos o mandado [de prisão]. Ele estava escondido numa chácara isolada, na beira de um rio. Naquele dia, meu colega fez a revista e a prisão. Mas eu fiz questão de bater a porta da cela, como se fosse para encerrar esse ciclo.”
Menos de um ano depois, em dezembro de 2017, ele foi solto por bom comportamento e dias descontados por trabalhar na horta e na cozinha do presídio. A vítima não esconde a insatisfação.
“Foi uma pena muito curta. Ele precisava ficar preso só um sexto da pena. Mas ele trabalhou e, no fim, ficou só um ano. A nossa execução penal tem muitos privilégios e a pessoa acaba ficando pouco tempo pagando pelo crime.”
DENUNCIE – DISQUE 100
Saiba a quem recorrer em caso de suspeita de violência sexual infanto-juvenil:
Conselhos Tutelares – Os Conselhos Tutelares foram criados para zelar pelo cumprimento dos direitos das crianças e adolescentes. A eles cabe receber a notificação e analisar a procedência de cada caso, visitando as famílias. Se for confirmado o fato, o Conselho deve levar a situação ao conhecimento do Ministério Público.
Varas da Infância e da Juventude – Em município onde não há Conselhos Tutleares, as Varas da Infância e da Juventude podem receber as denúncias.
Outros órgãos que também estão preparados para ajudar são as Delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente e as Delegacias da Mulher. (Fonte: Unicef)