Ação policial ganha voz entre artistas, escritores, jornalistas e intelectuais

Laerte, Bixiga 70, Bruno Torturra e outras personalidades declaram indignação com ação policial da última terça-feira, 1º de julho, na Praça Roosevelt

Bombas, tiros, prisões, choque de ordem, repressão a serviço do estado: enquanto a bola rola, estampidos e explosões calam, amedrontam, oprimem. Parece até 1970, mas foi na última terça-feira, 1º  de julho de 2014, Praça Roosevelt, São Paulo.

O ato-debate pela libertação do universitário Fábio Hideki e do professor Rafael Lusvaghi, presos arbitrariamente sob acusações e flagrantes ainda não comprovados, contava com a presença de estudantes, trabalhadores, movimentos sociais, coletivos, docentes, escritores, jornalistas, artistas e representantes de toda sociedade.

Na praça, centenas de pessoas se reuniram em uma mobilização popular contra a subtração das liberdades democráticas, pelo direito à livre manifestação de pensamento. “Entregamos o protocolo para a prefeitura e subprefeitura, solicitando que não houvesse presença dos policiais, uma vez que o ato se concentraria apenas na praça sem intervir na rotina da cidade. Mas quando chegamos, fomos surpreendidos pelo ostensivo aparato policial que cercava toda a região”, explica Luiz Guilherme Ferreira, militante do coletivo Advogados Ativistas.

Mapa feito pelos Advogados Ativistas mostrando o absurdo cerco policial para intimidar o debate público na praça Roosevelt ontem.

Antes do início do debate, policiais e suas câmeras registravam o ato conforme tem ocorrido desde as manifestações de junho de 2013.  Quando os primeiros participantes começaram a discursar, deu-se início às prisões, que ao fim do ato, somaram-se oito pessoas, entre eles os advogados Daniel Brial, Silvia Dascal, estudantes e um artesão que apenas passava pelo local.

Em nome da democracia

O episódio da última terça-feira, 1º de julho, reascende a discussão sobre temas como liberdade de expressão,  livre direito de manifestação e democracia. Em nota oficial, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) manifestou solidariedade aos dois advogados presos em “defesa contra prepotência” por parte das autoridades.

Diante do cerceamento dos direitos civis, personalidades de diversos setores demonstram apoio à luta pela liberdade e, sobretudo, contra o cenário ditatorial que se instala em grandes cidades do Brasil, como São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro. Confira os relatos:

Padre Julio Lancellotti  – Pastoral do Povo de Rua

“Voltei agora da manifestação pela libertação do Fábio e do Rafael , mais presos ,violência , bombas de gás , balas de borracha, intimidação . Inacreditável o que vimos e vivemos hoje em S.Paulo.

Agredidos dois advogados ativistas e mais 8 manifestantes foram detidos e levados para o 78 DP . Na dispersão fomos intimidados até a estação do metro pela Topa de choque e outro grupo nos aguardava dentro do metro . Intimidação e cerceamento da liberdade , coação e tratamento vexatório”.

Bixiga 70 – Banda 

Entre bombas no Oriente Médio, prisões arbitrárias e privações ao direito de manifestação no Brasil, entre belos gols de uma Copa que infelizmente reafirma tanta desigualdade, fica aqui nosso Grito de Paz sob os versos do poeta arrudA (Folha de Arruda). #liberdadeparahideki

Laerte Coutinho – Cartunista 

“Eu quero o Fabio livre”.

Bruno Torturra – Jornalista

“800 policiais na noite de ontem. E não qualquer policial… Mas a Tropa de Choque em traje de gala, cavalaria. Intimidando uma assembléia, uma reunião pacífica de pessoas em uma praça.
Advogados presos. Um espancado, negado até em suas prerrogativas como profissional de direito.

Se alguém ainda não entendeu, traduzo: a Tropa de Choque é uma polícia política. Ponto final.

Geraldo Alckmin é o responsável e deveria estar encurralado pela opinião pública. Isso, claro, se a opinião pública – e publicada – tivesse qualquer consideração pela base da democracia: o direito ao dissenso, à livre expressão política, à manifestação pacífica.

Para mim a questão agora é bem simples:
Quem viu o que está acontecendo e não se pronuncia é omisso e, portanto, cúmplice.
Quem, depois da escalada da repressão e do desprezo à democracia promovido pelo Estado de São Paulo, pretende reeleger Alckmin está cuspindo na história. A mesma história que garantiu, entre outras coisas, seu democrático direito de votar.

Enquanto isso… a Cantareira seca”.

Pablo Ortellado – Ativista e professor da EACH/USP;

“Participei hoje a noite do debate público pela liberação dos presos políticos que aconteceu na Praça Roosevelt. O debate não era uma passeata — havia uma mesa e oradores simplesmente falariam para um grupo cerca de mil pessoas sentadas no chão da praça.

Apesar de ser apenas um debate, bem no meio da praça, a Polícia Militar enviou centenas de policiais da Choque e cavalaria, prendeu arbitrariamente e provocou o tempo todo os presentes. A sensação de todos nós é que a comparação com a ditadura não é mais metafórica. Simplesmente a liberdade de reunião e a liberdade de manifestação estão suspensas. Também como nos anos de chumbo, quem está dentro da ordem, apenas acompanhando e torcendo pelos jogos, nem percebe as graves violações pelas quais o país está passando…”

Ricardo Lísias – escritor, finalista do Prêmio Jabuti e do Prêmio São Paulo de Literatura;

“Amigos, eu estava há uma hora e meia atrás na Praça Roosevelt no ato pela liberdade de Fabio Hideki e outros manifestantes que foram presos sem razão jurídica alguma. Fui convidado com algumas outras pessoas para falar.

Cheguei por volta de 18 horas e fui até a mesa, onde os organizadores estavam terminando de montar a ordem das falas”.

Registros da ação policial (créditos: Mídia Ninja e Território Livre)