Ação troca um pedaço de bolo por uma conversa sobre política
Os jornalistas já fizeram o projeto em dois lugares no Rio

Em meio ao crescimento do discurso de ódio e da intolerância na política, uma pequena ação surpreendeu as pessoas que passaram nas últimas semanas pela Praça Afonso Pena, na Tijuca, e pela Quinta da Boa Vista, próxima ao Jardim Zoológico, no Rio de Janeiro. “1 conversa sobre política = 1 pedaço de bolo”, dizia a placa colocada em uma mesa. Atrás dela, estavam os jornalistas Leandro Uchoas e Julia Boardman, que decidiram reservar algumas horas de seus dias para se dedicar a algo pouco comum atualmente: o diálogo.
A ideia de trocar um pedaço de bolo por uma conversa sobre política com desconhecidos surgiu na primeira reunião do coletivo criado por Leandro e Julia, chamado Afetivismo. “A gente queria desconstruir a noção de que política é apenas o que se faz em casas legislativas ou executivas, e decidimos estar em praças, parques, ruas e locais em que as pessoas transitam todos os dias”, afirmam os jornalistas ao Catraca Livre.
Já o bolo foi inserido na iniciativa para atrair até mesmo aqueles que não estavam a fim de conversar sobre o assunto. “Buscamos dar um caráter de não violência à ação, o esforço para tentar ser o mais neutro possível e respeitar todas as opiniões e pensamentos, apenas tentando levantar elementos para a pessoa refletir mais sobre suas posições”, explicam.
Até agora, foram feitas duas ações do coletivo no Rio de Janeiro: a primeira na Praça Afonso Pena, na Tijuca; já a segunda aconteceu na Quinta da Boa Vista, próxima ao Jardim Zoológico. A próxima intervenção está sendo planejada, inicialmente, para ser na Praça Seca, mas ainda não tem data definida.
Segundo os ativistas, a repercussão tanto nas redes sociais como nos próprios locais foi bastante positiva. “As pessoas riam, gostavam e vira e mexe se aproximavam para bater papo. Ninguém foi agressivo conosco. Esperávamos encontrar agressividade e estávamos preparados para reagir com afeto diante dessa hipótese”, relatam.
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Em relação ao diálogo estabelecido, os jornalistas contam que, no primeiro dia, as conversas tocaram em assuntos variados, como corrupção estrutural e políticas públicas de saúde e segurança, enquanto, no segundo, as pessoas se preocuparam mais com os impactos das políticas públicas em suas vidas. “Sentimos também muitas falas descrentes, de que ‘ninguém vale nada na política’ – e esse tipo de intervenção tentamos reverter, com perguntas chave, para injetar esperança nas pessoas.”
“Aprendemos bastante sobre as formas de se realizar essa ação e sobretudo sobre a cidade em que moramos. Sobre a experiência, entendemos que precisa ser aperfeiçoada. É necessário delimitar um teto para o tempo das conversas. Precisamos estar muito bem preparados para os que trazem a energia da agressividade e da intolerância. Além disso, é muito importante buscar sermos neutros e respeitarmos todas as opiniões que surgirem”, completam a respeito do aprendizado que tiveram.