Adolescente denuncia episódio de transfobia durante alistamento militar em SP
Só neste ano foram registrados mais de 70 assassinatos de transexuais e travestis no Brasil, o país mais transfóbico do mundo
Em 2015, o termo “transfobia” passou a ser discutido por alguns porta-vozes da mídia, ganhou espaço nas universidades, no cinema, internet, em atividades políticas e outras formas de manifestação. E precisa ser falado. Tudo porque, apenas neste ano, o Brasil assumiu o primeiro lugar do ranking de países que mais matam transexuais e travestis no mundo. Em quase dez meses já foram registrados mais de 70 assassinatos.
Neste cenário, marcado pela intolerância, preconceito e violência, vive a jovem transgênera Marianna Lively, 17 anos, que pelas redes sociais denunciou um caso de discriminação sofrido por ela durante o processo de alistamento militar. O episódio aconteceu na última quarta-feira, 23 de setembro, em um quartel da cidade Osasco, região metropolitana da capital paulista.
Em seu relato, publicado no último dia 27 de setembro, Marianna revela ter sido respeitada pelos militares durante o tempo em que esteve no batalhão. Horas depois, em casa, a adolescente começou a receber uma série de telefonemas anônimos, de diferentes regiões do país, recebendo insultos e gracejos por conta de sua transexualidade. “Era 14:00hrs começaram algumas ligações estranhas em minha residência, pessoas desconhecidas do RJ, SP, Brasília e Ceará, procuravam por David (meu nome de registro). Esses desconhecidos que estavam ligando, caçoavam de mim por eu ser trans, já outros me diziam ter gostado de mim e queriam deixar telefone para eu entrar em contato. Mas até então eu não estava ciente de nada”.
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Mais tarde, por volta das dez da noite, a jovem foi alertada por uma amiga de que fotos com sua imagem circulavam pelas redes sociais como WhatsApp e Facebook. Caiu então a ficha de Mariana: as fotografias viralizadas foram feitas por um cabo que participava do alistamento. Junto, foram divulgados seus documentos pessoais, seu nome e telefone.
O incidente levou Marianna a registrar um boletim de ocorrência em uma delegacia de Barueri, cidade onde mora, também na região metropolitana. No dia seguinte, junto de sua mãe, voltaram ao batalhão onde ouviram de um capitão que as providências cabíveis seriam tomadas, apesar da passividade do exército. “O capitão pediu desculpas pelo transtorno, disse que a pessoa que havia feito o ato de infantilidade iria ser punido, mas ao mesmo tempo que ele me dizia isso, ele dizia que era para eu deixar as coisas se acalmarem e trocar simplesmente de telefone, como se fosse reparar o erro deles”, descreveu Marianna no Facebook.
A advogada de Marianna, Patrícia Gorisch, entrará com um boletim na justiça militar e cobrará explicações da corregedoria. Além disso, registrará uma liminar exigindo que o Facebook e o Whatsapp proíbam a divulgação das fotos, segundo matéria do jornal O Estado de S.Paulo desta segunda-feira.
Sou Marianna (nome social) sou transgênera, tenho 17 anos. Fui me apresentar no quartel no dia 23/09/2015 como meu dever de cidadã brasileira. Chegando lá todos me trataram normalmente, sem preconceito e com educação. Porém, no mesmo dia quando era 14:00hrs começaram algumas ligações estranhas em minha residência, pessoas desconhecidas do RJ, SP, Brasília e Ceará, procuravam por David (meu nome de registro). Esses desconhecidos que estavam ligando, caçoavam de mim por eu ser trans, já outros me diziam ter gostado de mim e queriam deixar telefone para eu entrar em contato. Mas até então eu não estava ciente de nada.
Quando foi 22:00hrs (mesmo com as ligações continuas), uma amiga minha que mora no centro de São Paulo, entrou em contato comigo via facebook, me dizendo estar rolando fotos minhas no whatsapp e facebook. Ela me mandou as fotos e tomei conta da proporção do acontecimento, quem tirou as fotos foi o próprio soldado que estava lá á serviço. No dia seguinte 24/09, fui lá no local esclarecer com o capitão da base que eu havia me apresentado.
O capitão pediu desculpas pelo transtorno, disse que a pessoa que havia feito o ato de infantilidade iria ser punido, mas ao mesmo tempo que ele me dizia isso, ele dizia que era para eu deixar as coisas se acalmarem e trocar simplesmente de telefone, como se fosse reparar o erro deles.
Fui na delegacia e abri um b.o, mas não vale de muito pois o ocorrido aconteceu dentro do quartel, pelo o que o delegado me informou, eu teria de ir no batalhão de policia do exército abrir um boletim interno, para haver punição. Fazendo isso irei atrás dos meus direitos. Não deixarei passar batido, pois não quero que outras pessoas passem pelo mesmo, ou até pior.
Irei segunda-feira no Batalhão de Policia do Exército e em seguida no Quartel General para resolver tudo isso.
Gostaria que vocês dessem importância para isso, pelo fato de acontecer coisas banais no quartel e sempre serem acobertadas.
Seguindo as imagens podem ver que tem outra trans sendo exposta no meio deles…