Africano é preso dentro de casa: ‘vai gritar Lula lá na África’

O jovem, que não vota no Brasil ainda, foi levado à delegacia sob suspeita de boca de urna, mas foi liberado por não estar com nenhum material eleitoral

O vizinho do africano preso ao grito de ‘vai gritar Lula lá na África’, João Pedro Silva, relatou que estava com o amigo no momento da prisão, em Novo Gama, no Entorno do Distrito Federal. O homem de 32 anos que preferiu não se identificar foi detido no quintal de casa por declarar apoio ao candidato do PT.

Africano é preso dentro de casa: ‘vai gritar Lula lá na África’
Créditos: Reprodução/Instagram
Africano é preso dentro de casa: ‘vai gritar Lula lá na África’

“Eu achei errado nós estarmos lá dentro, entre os amigos, [eles entrarem], falarem que é boca de urna, e levar ele preso”, avaliou João Pedro.

O caso ocorreu no último domingo, 2, dia em do primeiro turno das eleições. Na ocasião, o homem estava participando de um churrasco com os amigos, que acompanharam de perto o momento em que ele foi algemado e levado pelos policiais.

João Pedro ainda negou que o amigo que foi detido estivesse entregando panfleto, santinhos, adesivos, entregando qualquer tipo de material de propaganda ou pedindo votos para o candidato que apoia na hora em que foi preso.

“Estávamos dentro do lote assando uma carne, eles entraram e algemaram ele. Em momento algum ele entregou panfletos, ele só estava gritando [o apoio] dentro de casa”, completou João.

O vídeo que mostra a prisão foi postada nas redes sociais do jornalista André Caramante. Depois das imagens circularem nas redes sociais, o Ministério Público (MP) solicitou à Polícia Militar explicações e as identidades dos envolvidos, além de instaurar um procedimento para investigar o fato. O MP falou ainda que repudia e atua em diversas frentes no combate ao racismo.

Em nota, a Polícia Militar alegou que, assim que ficou sabendo, determinou a abertura de um procedimento administrativo para apurar a circunstância do caso e afastou um dos policiais militares envolvidos das suas atividades operacionais até o final das apurações. A PM ainda disse que “não compactua com nenhum tipo de conduta contrária aos preceitos das leis”.

A prisão

Em entrevista ao g1, o africano falou como foi o momento em que os policiais entraram em sua casa e o levaram detido.

“Eu acordei de manhã, estava sem camisa, sem sapato. Eu estava na minha casa com meus amigos, fazendo churrasco. Eu sou apoiador do Lula, mas ninguém tem o direito de vir na minha casa para me prender porque eu quero que o Lula ganhe”, contou.

O homem explicou que mora a cerca de 200 metros de um local de votação e que, depois de acordar, foi fazer um churrasco com amigos no quintal de casa. Como é apoiador do Lula, ele disse que, durante a festança, falou abertamente sobre querer a vitória do candidato. Depois disso, em determinado momento, ele disse que a polícia entrou no terreno dele sem justificativa e o prendeu.

“Eu falei para ele [policial] que eu simplesmente queria que o Lula ganhasse, e ele chegou me agredindo dentro do meu lote e me prendendo. Colocaram uma pistola e falaram para eu colocar as mãos para trás”, disse.

No vídeo, o homem está sem camisa sendo algemado. Durante a abordagem, é possível ouvir a frase “vai gritar Lula lá na África agora”. Em seguida, um outro homem diz que o jovem estaria sendo preso por ser eleitor do Lula. Ao g1, o africano disse que quem falou a frase foi o policial que estava o algemando.

O homem mora há oito anos no Brasil. No entanto, ele diz que ainda não vota no país, porém tem direito de expressar sua opinião. Inicialmente, a polícia chegou a afirmar que o homem negro teria sido algemado e preso porque estaria próximo a uma seção eleitoral supostamente fazendo boca de urna para o candidato Lula, do PT.

O jovem chegou a ser levado à polícia, porém, por não portar materiais eleitorais, foi liberado.