Alvo de censura e perseguição, Gaviões da Fiel recebe apoio de jornalistas nas redes sociais
Pelo twitter, jornalista Gian Oddi, da ESPN, declara apoio às manifestações: "Toda vez que uma faixa do gênero for vetada, seja do time que for, devemos divulgá-la mais e mais. Então lá vai".
Muito além do “pão e circo”, ou “ópio do povo”, futebol e política, no Brasil, sempre estiveram lado a lado – para campo já foram levados temas como racismo, ditadura, violência policial, tarifa de ônibus e corrupção.
A voz das arquibancadas voltou a ganhar repercussão nos últimos dias com o levante organizado pelos corintianos da Gaviões da Fiel, novamente, alvo de perseguição e censura.
Desta vez, por se posicionar contra temas que envolvem a monopolização da rede Globo e os jogos às dez da noite, valores dos ingressos e o caso de propinas de merendas no governo Geraldo Alckmin. Temas estampados em faixas da torcida nos últimos dois jogos da equipe e reprimidos, inexplicavelmente, pela polícia militar.
Repercussão nas redes sociais: jornalistas manifestam apoio à torcida
No jogo do último domingo entre Corinthians e São Paulo, em Itaquera, o árbitro Luis Flávio de Oliveira interrompeu a partida após nova manifestação da torcida, que levantou as faixas durante o segundo tempo da disputa. Nos canais da TV aberta o que se testemunhou foi um prático exemplo de censura, ao não exibir as mensagens das arquibancadas enquanto um jogador alvinegro dialogava com os torcedores.
O jornalista Gian Oddi, da ESPN Brasil, questionou a arbitrariedade que tem envolvido o caso, ferindo o legítimo direito do torcedor de se manifestar. “Toda vez que uma faixa do gênero for vetada, seja do time que for, devemos divulgá-la mais e mais. Então lá vai”. ressaltou pelo Twitter. Além de Gian, jornalistas esportivos e de outros setores também se posicionaram contra a repressão enfrentada pela torcida organizada.
Confira nota emitida pela torcida a respeito das manifestações:
NOTA OFICIAL: Protesto realizado no jogo Corinthians x Capivariano
No dia 1º de julho de 1969, um grupo de jovens torcedores do Corinthians fundava o que viria a se tornar a maior torcida organizada do País: os Gaviões da Fiel.
O propósito era derrubar o então presidente – ditador – do Corinthians, Wadih Helu. Foi nessa época que o país teve conhecimento de um primeiro enterro simbólico de presidente de clube já realizado.
Não era fácil se opor ao mandatário, que fazendo valer sua fama de ditador, pagava para que pugilistas profissionais caçassem os tais dos Gaviões. Mas nada era fácil, àquela altura, afinal o Brasil vivia o período da ditadura militar.
E em uma mistura de torcida com engajamento político, os Gaviões da Fiel começaram a atuar na fiscalização do clube ao mesmo tempo em que agiam como mais um grupo pró-redemocratização do país. Nas arquibancadas, faixas de protesto contra a diretoria se confundiam com faixas que pediam “Diretas Já” e anistia ampla, geral e irrestrita.
Em tempos de pau de arara, exílio, tortura e morte, os Gaviões resolveram impor sua voz. Recém-nascida, porém forte.
Hoje, passados 31 anos, os Gaviões da Fiel se veem novamente sob a tentativa ditatorial de censura e repressão.
No jogo da última quinta-feira (11), Itaquera foi palco de uma nova caça aos Gaviões, dessa vez representada pela Polícia Militar do Estado de São Paulo (e seus mandatários).
Segundo o Art. 13-A, inciso IV, do Estatuto de Defesa do Torcedor, é proibido “portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo”.
E sabendo disso, tratamos de criar faixas com muito cuidado para não ferir tal artigo. As três faixas que foram expostas nas arquibancadas, eram as seguintes:
1) “Jogo às 22h também merece punição”;
2) “Rede Globo, o Corinthians não é seu quintal”;
3) “Cadê as contas do estádio?”
Nenhuma com mensagens ofensivas, muito menos de caráter racista ou xenófobo. Aliás, muito pelo contrário. Todas as faixas amparadas no que assegura a própria Constituição, no Artigo 5, dizendo que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.
E sobre liberdade de expressão, nossa Constituição segue dizendo que “a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição. E ainda completa: “é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.”
Conhecendo nossos direitos constituintes (e torcedores organizados estão igualmente enquadrados por estes), gostaríamos de entender (talvez a polícia militar e/ou poder público responsável poderiam nos responder):
a) Em qual momento o Art. 13-A, inciso IV, do Estatuto de Defesa do Torcedor, foi infringido por nós?
b) De quem partiu a ordem para que invadissem as arquibancadas e apreendessem as faixas e agredissem os torcedores?
c) Quando se adentra um estádio, perde-se os direitos constituintes?
E aproveitando o ensejo, também nos causa muita estranheza a forma como os protestos são abordados pela grande mídia. Que os veículos da família Marinho não noticiariam o fato tínhamos certeza, afinal a Rede Globo foi claramente atacada por nós.
Agora o jornalista Antero Greco, no programa Sportscenter, da ESPN Brasil, questionar e ainda dizer ter “um pé atrás a respeito da espontaneidade de certas atitudes de torcidas organizadas” é demais.
Segundo as afirmações do próprio, ele diz estranhar o fato de os Gaviões só estarem reclamando do horário do jogo agora, após tantos anos desse padrão.
Greco também questionou as cobranças de contas que fizemos, dizendo ser este um papel do Conselho e não da torcida.
Por fim, o show de críticas preconceituosas termina com uma insinuação de que as cobranças são incentivadas e patrocinadas por alguém.
O que nos deixa com o “pé atrás”, na verdade, é o fato de um jornalista não desempenhar o seu ofício como tal e sair divagando opiniões em rede nacional sem ao menos checar as informações. Sem contar o fato de que finge desconhecer o cunho fiscalizador que os Gaviões da Fiel desempenham desde sua carta de fundação, assinada pelo nosso primeiro presidente e sócio número um, Flávio La Selva.
Afinal, quem conhece minimamente os Gaviões sabe que a crítica aos horários dos jogos é feita há muitos e muitos anos. E não, não somos patrocinados por ninguém. Somos os Gaviões da Fiel Torcida, Força Independente.
Para finalizar esse já extenso texto (infelizmente), os Gaviões da Fiel Torcida vêm a público reafirmar todas as recentes posturas críticas à falta de transparência por parte da diretoria do Corinthians, aos mandos e desmandos da FPF, e ao infeliz banco de negócios futebolísticos, que coloca os interesses da Rede Globo a frente dos interesses do futebol, que deveriam envolver, sobretudo, os jogadores, clubes e torcedores.
Reafirmamos que, durante os 60 dias em que estivermos cumprindo a punição, a diretoria dos Gaviões da Fiel Torcida não se responsabilizará pelo ato de torcedores. E, acima de tudo, mandamos um recado bem claro a todos os envolvidos no episódio de ontem:
Faz 46 anos que tentam, de todas as formas, calar os Gaviões da Fiel Torcida. Até então, em vão, e assim continuará sendo!