Após aborto na lama, mãe luta para reconhecer morte do filho

Em resposta à mãe que perdeu um bebe de três meses no desastre, a mineradora Samarco alega não ser responsável pela morte do feto

04/11/2016 17:01

No próximo sábado, 5, o crime ambiental que destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), completa um ano. E apesar das 19 mortes anunciadas, a sobrevivente Priscila Monteiro, 28 anos, luta pelo reconhecimento da vigésima vítima: o bebê  de três meses que carregava em seu ventre.

Em depoimento à BBC Brasil, Priscila relatou sua experiência em meio a maior tragédia ambiental registrada no Brasil, que, para além das centenas de quilômetros deixadas pelo rastro de destruição, arrasta até hoje irregularidades jurídicas, indenizações não pagas e histórias levadas pela lama.

“Pensa em milhões de trovoadas de uma vez. Era o barulho da lama. As paredes da casa começaram a tombar em cima da gente. Meu irmão gritava. Veio a lama e arrancou meu filho de 2 anos e minha sobrinha dos meus braços. Foram os dois, dentro da lama. Eu afundei. Não enxergava mais nada.”

Era quinta-feira, novembro de 2015, quando na tarde do dia 5 o distrito de Bento Rodrigues fora tomado pelo mar de lama que causou o rompimento da barragem do Fundão – propriedade da mineradora Samarco. Grávida de três meses,faria ultrassom no dia seguinte.

Entre as 19 vítimas anunciadas, Emanuele Vitória, de cinco anos, não resistiu à onda de lama causada pelo rompimento da barragem
Entre as 19 vítimas anunciadas, Emanuele Vitória, de cinco anos, não resistiu à onda de lama causada pelo rompimento da barragem

“Perdi meu bebê e fui arrastada pela lama. Eram ondas, eu afundava, me cortava toda. Engoli muita lama. Furei meu rosto e cortei costela, pernas, braços, nádegas. Meu maxilar saiu do lugar. A lama levou toda minha roupa”, conta Priscila que foi arrastada por mais de um quilômetro e passou 13 dias internada. Além do filho abortado, Priscila perdeu ainda a sobrinha Emanuelle Vitória.

Neste sábado, 5, a luta de Priscila pelo reconhecimento da 20ª vítima fatal completa um ano. Apesar disso, a mineradora Samarco, responsável pelo crime ambiental, nega responsabilidade sobre o feto.

Para Samarco, tragédia não provocou a morte do bebê

Na reportagem, o advogado de Priscilla revelou que a empresa justifica não ser responsável pela morte do bebê, mesmo diante da série de consequências sofridas pela gestante.

Na única vez em que comentou oficialmente o caso, há seis meses, a Samarco informou que contratou um especialista para examinar Priscila e que ele constatou que ela não estava grávida. Confira a matéria completa no site da BBC Brasil.