Após aborto negado, casal espera que coração de bebê pare de bater

Uma viagem turística que acabou em dias de suspense e aflição para o casal Andrea e Jay

23/06/2022 19:29

Andrea e Jay passam por uma situação muito delicada: eles estão rezando para que o coração de sua filha pare de bater antes que Andrea desenvolva uma infecção potencialmente mortal.

Após aborto negado, casal espera que coração de bebê pare de bater
Após aborto negado, casal espera que coração de bebê pare de bater - Reprodução/Instagram

O casal, dos Estados Unidos, estava passando as férias em Malta quando Andrea Prudente, grávida de 16 semanas, começou a perder muito sangue. Os médicos falaram que a placenta estava parcialmente descolada, e sua gestação não era mais viável.

No entanto, o coração do bebê ainda batia e em Malta isso quer dizer que, por lei, os médicos não podem parar a gravidez. Há uma semana o casal está aguardando, confinado em um quarto de hospital.

“Estamos sentados aqui com o entendimento de que, se ela entrar em trabalho de parto, o hospital entrará em ação. Se o coração do bebê parar, eles vão ajudar. Fora isso, eles não vão fazer nada”, diz Jay Weeldreyer à BBC.

A voz dele está cansada e irritada. Ele teme que a condição de Andrea possa alterar rapidamente a qualquer momento.

“Com a hemorragia e a separação da placenta do útero, com a membrana totalmente rompida, e o cordão umbilical do bebê projetando do colo do útero da Andrea, ela corre um risco extraordinariamente alto de infecção, o que poderia ser evitado”, fala ele.

“A bebê não pode viver, não há nada que possa ser feito para mudar isso. Nós a queríamos, ainda a queremos, nós a amamos, desejamos que ela pudesse sobreviver, mas ela não vai. E não só estamos na situação em que estamos perdendo uma filha que queríamos, como o hospital também está prolongando a exposição da Andrea ao risco”, acrescenta.

A esperança deles é uma remoção médica de emergência para o Reino Unido, paga pelo seguro de viagem.

Em 2017, outra turista precisou ser transferida para a França para realizar um aborto de emergência. Porém, para as mulheres de Malta, esta não é uma opção.

Aborto em Malta é ilegal

A ilha tem algumas das leis mais rígidas da Europa em relação ao aborto: interromper uma gravidez é contra lei, inclusive quando o feto não tem chances de sobreviver.

É uma lei que a advogada Lara Dimitrijevic, presidente da Women’s Rights Foundation em Malta, vem combatendo há muitos anos. “As mulheres aqui raramente têm voz”, relata ela.

“A prática geral é que os médicos ou deixam o corpo expulsar o feto por conta própria, ou se a paciente fica muito doente e desenvolve sepse, eles então intervêm para tentar salvar a vida da mãe.”

“Sabemos que, em média, há dois ou três casos como este todos os anos, mas depois que a Andrea tornou sua história pública nas redes sociais, começamos a ver muitas outras mulheres se apresentando e compartilhando suas experiências.”

“Dimitrijevic conta que a lei tem que mudar porque uma prática como esta não é só um risco para a saúde das mulheres, é também um trauma psicológico para elas e seus respectivos familiares.

A BBC chegou a entrar em contato com o governo de Malta e a administração do hospital para comentar o assunto, mas não teve retorno.

Após seis dias, aguardando que uma das duas coisas terríveis aconteça, Jay fala que ele e sua esposa estão exaustos.

“Este procedimento poderia ter sido feito em duas horas, sem colocar Andrea em risco e nos permitindo viver o luto”, fala.

“Em vez disso, é esta coisa prolongada, em que você acaba com pensamentos realmente sombrios, pensando em como isso pode acabar?”.