Após sofrer racismo na escola, aluna é obrigada a pedir desculpas para agressores
Agressões sofridas pela menina de 12 anos motivaram campanha #somostodaslorena, que exalta a negritude nas redes sociais
Lorena tem 12 anos e, como quase toda criança da sua idade, gosta de ir ao parque, ver desenho em casa e aproveitar a infância ao lado dos amigos. Sua mãe conta que sempre foi uma menina doce e carinhosa. Até que certo dia recebeu um telefonema da escola, pois sua filha seria transferida de turma porque os colegas “não se adaptaram a ela”. A surpreendente ligação traria à tona mais um episódio de racismo, que além do consentimento da escola, acabaria culpando quem, na verdade, deveria receber desculpas.
Sem saber o que havia acontecido, Camila a princípio estranhou o silêncio da filha, já que as duas sempre foram muito próximas. Contudo entenderia o motivo mais tarde, quando ela explicou: por ser negra, Lorena estava sofrendo bullyng e racismo na sala de aula. Chegou a procurar a direção da escola, mas só teve resposta duas semanas depois, quando outros alunos descobriram que ela havia delatado os agressores e acabou sendo alvo de mais ataques. Desta vez, por ser “dedo dura”. Com tudo isso, a direção sugeriu que a aluna mudasse de sala. Sem alternativa, a pequena Lorena concordou com a decisão.
Na página do Facebook Preta e Acadêmica, a mãe relatou o ocorrido “No espaço da escola, seus “colegas” começaram a questionar sobre o ocorrido, e como ela pode ter os dedurado, iniciando uma gritaria contra a criança, que correu para os braços da diretora do colégio. A diretora, que “já está de saco cheio dessa história” (palavras da própria), resolveu fazer uma acareação. O resultado? Lorena teve que pedir desculpas para seus agressores”.
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O episódio, abusivo e absurdo, ganhou repercussão nas redes sociais, quando Camila decidiu relatar tudo o que havia acontecido. Compartilhado por mais de 70 mil pessoas, o texto revelava o sofrimento da menina por meio de gravações enviadas em grupo do whtas app formado por colegas do condomínio e alguns amigos da escola. Quando teve acesso às mensagens, a mãe descobriu o teor das ofensas:
“SUA PRETA, TESTA DE BATE BIFE DO CARA******!”
“EU SOU RACISTA MESMO, QUANDO EU QUERO SER RACISTA EU SOU RACISTA, ENTENDEU?”
“TODA VEZ QUE EU ENCONTRAR ELA NA MINHA FRENTE EU VOU ZUAR ATÉ ELA CHORAR”
“VOCÊ VAI FICAR NESTE GRUPO ATÉ VOCÊ CHORAR”
“CABELO DE MOVEDIÇA, CABELO DE MIOJO, CABELO DE MACARRÃO”
Em entrevista a uma página na Internet, Camila afirmou que muitos colegas preferiram não se manifestar diante das agressões e um chegou a sair do grupo. Um deles até confrontou os agressores por conta do exagero das ofensas. “Entrei em choque, diante de tantas agressões psicológicas, tamanha inconsequência dessa juventude que ainda nos dias de hoje se comporta de maneira tão cruel, não posso essa situação como “coisa de criança”, racismo nunca foi coisa de criança”, disse ao site Global Voices.
O caso foi encaminhado ao Conselho Tutelar por envolver menores. Entretanto, na escola, não houve nenhum tipo de punição aos agressores, nem tentativa de abordar a agressão entre os alunos. Confira a matéria na íntegra no site Global Voices.