Assassinato de transexual brasileira revolucionou luta contra transfobia em Portugal

Aos 45 anos, Gisberta Salce foi torturada e agredida por adolescentes em um edifício abandonado na cidade do Porto. Vítima do preconceito e intolerância, a brasileira se tornou símbolo da luta contra a transfobia no país

23/02/2016 16:29

Faz 10 anos que o assassinato de uma transexual brasileira revolucionou o debate sobre intolerância e ódio contra homossexuais em Portugal. Imigrante ilegal, trans, prostituta, sem-teto e soropositiva, Gisberta Salce Junior, 45 anos, foi agredida durante dias por 14 adolescentes e encontrada no fundo de um poço de 15 metros na cidade do Porto.

Enquanto o Brasil segue como o país que mais mata transexuais no mundo, Portugal abriu o diálogo para a transfobia. Se reinventou para questões da igualdade de gênero e provocou transformações fundamentais para a comunidade LGBTT.

Corpo de Gisberta está enterrado em São Paulo, onde viveu até os 18 anos
Corpo de Gisberta está enterrado em São Paulo, onde viveu até os 18 anos

Anos após a morte de Gisberta, o legislativo português decidiu arregaçar as mangas, criando leis que discutiam temas sobre igualdade de gênero, em busca de maior acesso à Justiça, educação e inclusão profissional. Na mesma época foi criada a concessão de asilo a transexuais estrangeiros em risco de perseguição.

Em entrevista ao site da BBC, o investigador do ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa) destaca o impacto que a morte de Gisberta provocou no país. “Portugal transformou-se em um dos países mais avançados do mundo no tratamento à igualdade de gênero. As leis criadas nos últimos dez anos possibilitaram que um número grande de homens e mulheres trans conseguissem se integrar à sociedade”.

Com a repercussão inédita na mídia e na sociedade portuguesa meses depois do crime, associações ligadas aos direitos dos homossexuais organizaram série de manifestações em todo país que resultaram na criação de uma série de leis que envolvem o tema. Desde 2011, uma pessoa que queira mudar o nome e gênero em seus documentos, precisa apenas de um parecer médico para promover a mudança.

O legado de Gisberta

Dez anos depois da morte de Gisberta, sua história foi transformada em peça de teatro, virou documentário e a canção “Balada de Gisberta”, escrita pelo português Pedro Abrunhosa e interpretada na voz de Maria Bethânia. Confira a matéria na íntegra no site da BBC Brasil.