Aulas de português, protestos e uma página no Facebook ajudam sírios refugiados no Brasil
Coordenação da Revolução Síria no Brasil acolhe os sírios que chegam aqui sem dinheiro, comida, emprego ou noções de português
Poucas pessoas sabem, mas elas podem estar dividindo um assento do metrô com um revolucionário sírio. Não se trata de alguém com o rosto coberto, segurando um coquetel molotov e vestindo uma camiseta com charge do Latuff, mas sim uma pessoa normal. Isso porque existe desde 2011 um grupo chamado Coordenação da Revolução Síria no Brasil, que age em nosso país fazendo oposição ao governo sírio e acolhendo refugiados.
A página no Facebook serve para divulgar assassinatos, abusos e maus tratos cometidos pelo regime de Bashar al-Assad contra os rebeldes sírios – em postagens escritas em árabe e em português – , mas sua função principal é dar assistência aos recém-chegados ao país, que fogem da Síria com medo da situação.
A ideia surgiu de um grupo de comerciantes sírios que moram no Brasil. Um deles, Amer Masarani, deu uma entrevista à VICE explicando como funciona a Coordenação, por qual motivo lutam e quais seus principais objetivos.
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Bem-vindos?
A intermediação de viagens era complicada, pois os sírios não são autorizados a receberem dinheiro de parentes ou conhecidos que saíram do país. Mesmo assim, Masarani, que vive no país há 16 anos, já conseguiu trazer dez parentes e 25 outros refugiados para cá nos últimos anos.
Depois que a embaixada brasileira na Síria fechou e se mudou para Beirute, no Líbano, o grupo passou a se dedicar à adaptação dos que já estavam aqui. A parte mais difícil, segundo o comerciante, é lidar com o português. Ele conta que alguns refugiados que antes eram empresários são obrigados a adotarem aqui profissões que não exigem muito diálogo.
Diplomacia
A crítica mais ferrenha do grupo, contudo, é destinada à política externa do governo de Dilma Rousseff. Diplomaticamente, o Brasil condena possíveis abusos do governo Assad, mas faz críticas às facções rebeldes e não apoia uma intervenção militar no país. “O Brasil sofreu uma ditadura. Eu não estava aqui, mas a Dilma falou bastante sobre isso quando foi eleita, dizendo que havia sido perseguida e presa. Mas hoje ela apoia um ditador”, diz Amer à reportagem.
O próximo passo do grupo já foi organizado. Está programada para o dia 15 de março – quando a revolução completa dois anos – uma manifestação na Avenida Paulista que vai reunir toda a oposição síria no Brasil. O objetivo é pedir para o governo brasileiro expulsar todo o corpo diplomático da Síria e reconhecer a Coalizão Nacional para as Forças da Revolução e da Oposição Síria no Brasil como representante legal do governo sírio no país.
Além de apoiar as manifestações, há outras formas de ajudar. O grupo precisa de professores de português para os recém-chegados e, claro, ajuda financeira. Quem quiser contribuir pode ficar de olho nos panfletos que são distribuídos pelo grupo.