Aventuras de um poeta jogador
Jonas Matos tem 13 anos e pensa em jogar no Flamengo, mas vai lançar seu primeiro livro de poesia na bienal
Jonas Worcman Matos tem 13 anos, estuda na sétima série da Escola da Vila e quer ser jogador de futebol profissional. Está tão certo de seu destino que, neste semestre, garante que vai tentar passar pela peneira do Flamengo e, se der certo, deixará os pais em São Paulo para morar com uma avó no Rio. Para levantar algum dinheiro, enquanto o estrelato futebolístico não chega, está se aventurando como escritor -um dos seus prazeres é escrever poesias de terror.
Esse é o perfil de um personagem que aposta na poesia e no futebol e que poderia integrar um romance de literatura infanto-juvenil, mas é também o do mais jovem escritor a lançar um livro na bienal, que começa amanhã, quando estará autografando a “Casa de Franquis Tem”, em co-autoria com seu pai, José Santos Matos. “Já li muitos livros e vi muitos filmes de terror, mas só tenho medo mesmo é de altura”, diz Jonas, que, além de dar autógrafos, vai comandar oficinas de rimas para crianças.
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Além de abrir conta em banco, o livro ajudou-o a receber mais lições da realidade. Ao lado do pai, ele se reuniu com editores e foi obrigado a ouvir respostas negativas. “Tive de matar aula porque a reunião era na hora da escola.” Acabou entusiasmando a editora FTD. Teve, então, de se submeter a várias negociações para preservar a sua obra.
Não gostaram de uma poesia, intitulada “Rap da Caveira”, que ele fez em homenagem a Mano Brown, seu ídolo musical. “Eles argumentaram que havia muitas palavras duras para o público infantil.” Saiu o rap, mas ele conseguiu salvar vários trechos condenados pelos editores.
Jonas entrou na literatura por acaso. Seu pai escreveu um livro de poesias para crianças e pediu a opinião dele. “Ele falou francamente o que achava e tive de mudar muitas passagens”, conta José, um dos criadores do Museu da Pessoa, um espaço virtual em que se registram histórias de vida. O filho parece até saído de um dos mais exóticos tipos de seu museu.
O garoto tinha, na época, sete anos e viu-se seduzido a brincar com rimas -ficou ainda mais motivado quando encontrou bancos de rimas na internet. Começou então a publicar textos e a dar oficinas para seus colegas mais novos na Escola da Vila.
Veja galeria de imagens (Foto: Arquivo Catraca)
Nada disso, porém, sugere que ele possa, quem sabe, seguir uma carreira como comunicador ou escritor. “Não preciso crescer para saber o que quero ser”, afirma, taxativo, ao lado do pai, silencioso, como se dissesse que não tem forças para demovê-lo de seu projeto.
Mas enquanto o estrelado no campo não vem, Jonas encontrou um meio-termo. Seu próximo livro será sobre futebol e também no estilo de terror. “Mas o que quero mesmo é ser o terror dos goleiros”, brinca.