Trabalho x Maternidade: Chef Bel Coelho posta selfie de protesto
Um dos maiores nomes da gastronomia brasileira, de reconhecimento internacional, a chefe de cozinha Bel Coelho usou recentemente sua conta no Instagram para fazer um protesto.
Um cliente teria ido ao restaurante Clandestino, do qual Bel é proprietária, e dito que gostou da comida, mas não da “cara de sono” da chef. Ativista da cozinha brasileira, empresária e mãe de dois filhos, ela não se deu por satisfeita e publicou uma selfie com a seguinte legenda:
#Selfie antes de arrancar a maquiagem me fez lembrar que essa semana ouvi dizer que tenho cara de sono. A crítica veio de um cliente do ramo da gastronomia e estava comendo o menu dos orixás dessa semana. Gostou da maior parte do menu com exceção do arroz de rabada que achou sem sal e a minha cara de sono. Primeiramente, fiquei injuriada, mas em poucos momentos notei que essa pessoa tem toda razão. Sim, devo andar com uma tremenda cara de cansada a torto e à direita. Acho que esse é ainda um direito garantido, principalmente a mulheres que trabalham pelo menos 12 horas por dia e tem dois filhos (um de 1 ano que acorda todo dia às 6 da matina e um de 4 que vem toda noite pra minha cama) para criar e educar. Além do meu trabalho normal e dos meus pequenos, me dedico também a algumas lutas que julgo importantes para transformar nosso brasil num país mais justo e democrático para meus filhos e para todos. Mas sinto em dizer que do jeito que a coisa anda, muito bem obrigada por um lado, e muito catastrófica na conjuntura política, meu ritmo não vai mudar. Vou seguir trabalhando muito, lutando e resistindo para construir um cenário mais democrático e justo em varias esferas e em todas que eu puder tocar.
Posso melhorar o tempero do arroz, mas a cara vai seguir assim, ora com sono, cansada, frustrada, ora maquiada, feliz e natural.
(Posteriormente observado: os colegas do nosso ramo são os primeiros que deveriam demonstrar empatia pelos nossos perrengues, mas infelizmente são sempre os mais animados em te tacar a primeira pedra, né, não? É assim em todo meio?)”
O depoimento de Bel Coelho levanta uma importante discussão acerca do machismo e das mulheres que têm filhos no mercado de trabalho. Falando especificamente da gastronomia, destaca a falta de representatividade – a cozinha tem se tornado um espaço cada vez mais masculino e excludente com as mulheres.
- Flórida tem 9 novos restaurantes com estrela Michelin
- Orlando para cinéfilos: 10 filmes e séries gravados no destino
- Nova York é destino para ir em qualquer época do ano
- 24 filmes estreiam nos cinemas ainda em 2023; fique por dentro!
Dentre os 57 estabelecimentos premiados na mais recente edição francesa Guia Michelin, só constam duas mulheres, que trabalham junto com seus parceiros. “É horrível dizer isso, mas me esforcei muito para que esquecessem que sou mulher, para que os homens me aceitassem como chef no setor”, disse Anne-Sophie Pic, que tem três estrelas.
Durante os 118 anos de história do Guia foram atribuídas 621 estrelas Michelin na França e apenas 16 a mulheres – o que constitui menos de 3% do total. Apenas quatro mulheres francesas conseguiram as três estrelas, a melhor pontuação que este guia oferece: a primeira foi Eugénie Brazier, chef no restaurante La Mère Brazier, em Lyon, em 1933, e a última Anne-Sophie Pic, do restaurante Pic em Valence, em 2007.
Anne defende ainda que precisa haver mais sororidade no ramo da gastronomia e também aponta a questão da maternidade: “Quando a mulher se torna mãe de família, se não estiver bem amparada, deverá escolher. Isso é algo que não se pode esquecer”.
O reconhecimento do Guia Michelin deu origem à #MichelinToo, idealizada pela cineasta Vérane Frédiani, que em 2017 lançou o documentário The Goddess of Food (em português, A Deusa da Comida) e percebeu a pouca representatividade feminina nas cozinhas. A campanha é justamente uma denúncia da desigualdade na atribuição das estrelas pelo guia mais famoso do meio.
A cineasta lançou o desafio para tentar descobrir as chefs que gerenciam restaurantes na França e perguntou aos seus seguidores quantos estabelecimentos conheciam com chefs mulheres. Descobriu mais de 200. “A ideia é publicar a lista e assim não se pode dizer que não há chefs mulheres em França” – disse ao New York Times. Com a publicação, ela quer “motivá-las a sonhar cada vez mais alto e a tentar tornar os seus sonhos realidade”, conta.
Leia Mais: