Blocos se posicionam contra Carnaval de rua em São Paulo
Cerca de 250 blocos de rua cancelaram a participação na folia deste ano
Cerca de 250 blocos de Carnaval de rua de São Paulo anunciaram nesta quarta-feira, 5, que não irão participar das festas na capital paulista e nem de eventos fechados no autódromo de Interlagos, como está sendo estudado pela prefeitura.
No manifesto, denominado “Te Amo São Paulo, mas não vou fazer seu Carnaval…”, três entidades afirmam que “os blocos participantes dos Coletivos, em sua grande maioria, comunicam que não sairão às ruas neste Carnaval de 2022, mesmo que a festa seja autorizada” pela gestão municipal.
A prefeitura deve anunciar a definição sobre o Carnaval deste ano nesta quinta-feira, 6.
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O documento é assinado pelo Fórum de Blocos de Carnaval de Rua de São Paulo, pela União dos Blocos de Carnaval de Rua do Estado (UBCRESP) e pela Comissão Feminina de Carnaval de SP.
Essas entidades representam blocos tradicionais como Acadêmicos da Cerca Frango, Jegue Elétrico, Bloco do Abrava, Me Lembra Que Eu Vou, Sanatório Geral, Bloco Gambiarra, Bangalafumenga, Monobloco, entre outros.
No manifesto, elas afirmam que “é obrigação do Poder Público ser rigoroso na observância das regras sanitárias em todos os eventos que já acontecem e vão acontecer na cidade de São Paulo” e não aceitam alternativas que não seja a de preservar a vida dos paulistanos.
Carnaval de rua em outras capitais
Cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Olinda já anunciaram o cancelamento do Carnaval de rua Rio de Janeiro, em Salvador e Olinda.
A capital fluminense, no entanto, irá manter os desfiles de escolas de samba na Marquês de Sapucaí.
Além de Rio de Janeiro, Salvador e Recife, outras oito capitais cancelaram o Carnaval de rua este ano: Campo Grande (MS); Belém (PA); Cuiabá (MT); Curitiba (PR); Fortaleza (CE); Florianópolis (SC); São Luís (MA) e Maceió (AL).
Leia abaixo o manifesto do Fórum de Blocos de Carnaval de Rua de São Paulo
“Te Amo São Paulo, mas não vou fazer seu Carnaval…
Em razão do momento vivido pela Sociedade Brasileira, provocado por extremismo de opiniões e condutas em relação à Saúde Pública e ao Estado de Direito ;
E também pela falta de clareza e consenso entre as Instituições Governamentais Federais, Estaduais e Municipais, no enfrentamento desta nova fase de Crise Sanitária, Assistência Social e Econômica, que permanece em todo o Território Nacional ;
O Fórum de Blocos de Carnaval de Rua de São Paulo, a UBCRESP e a Comissão Feminina de Carnaval de São Paulo, vem se manifestar a todas e todos os membros da Sociedade Civil e dos Poderes Constituídos, principalmente hoje, na esfera Municipal, a saber:
O Carnaval é oficialmente “Patrimônio Imaterial do Estado de São Paulo”, e assim é e deve ser considerado em todo o Brasil, dada a sua conexão Sócio Política com as raízes seculares da Cultura Popular Brasileira, carregando em sua história os símbolos mais dignos da vida em Sociedade.
O Carnaval é Luta, é Liberdade de Expressão, é Respeito, Solidariedade e Comunhão!!
É lugar de fala de todas as Minorias, de Lutas Identitárias e de Críticas Políticas e Sociais!!
O Carnaval é Preto, é LGBTQIA+, é Feminino, é Comunitário, é Humanitário, é Plural e Democrático!! É Emprego, é Profissão, é Arte, Amor e Entrega.
O Carnaval carrega todo o Bem que a nossa Sociedade precisa, e como tal, exige que seus agentes principais tenham firmeza e propósito na condução das melhores práticas frente a este momento de incertezas e descaso social.
Os Blocos Paulistanos, em sua maioria, carregam matizes Culturais e Artísticas tradicionais, seja em seus Territórios, seja por seus Artistas, seus integrantes e, atualmente, até pelos grupos inovadores, que de um tempo pra cá vem desenvolvendo outras matizes culturais, também importantes, que, em conjunto com as tradicionais, fazem do Carnaval de Rua de São Paulo talvez o mais diversificado do País, além do fato de já ser o maior do Brasil em resultados econômicos.
Porém, com todo esse potencial de acerto, com mais de 600 Blocos regularmente inscritos para uma possível realização da nossa Festa, estamos hoje, dia 5 de janeiro de 2022, totalmente inseguros quanto à possibilidade de realização do nosso Carnaval, quanto às alternativas possíveis para amparar toda a cadeia produtiva envolvida no Evento.
Hoje muitos Blocos da Cidade fazem a “economia circular “ da Folia operar praticamente o ano todo, num ciclo econômico virtuoso e necessário a milhares de trabalhadores paulistanos.
Durante toda a organização prévia da nossa Festa, nenhum Bloco ou Coletivo foi incluído nas tratativas de organização, planejamento, levantamento de dados, necessidades comunitárias, enfim, nada que o Poder Público pudesse usar para se aproximar do melhor a ser tratado com os verdadeiros protagonistas dessa Festa, que são os Blocos de Rua.
A possibilidade de termos pouca condição sanitária para a realização da Festa nunca foi pequena, mas isso passou ao largo das Autoridades Municipais, Estaduais e Federais.
Por razões das mais diversas e até estúpidas, chegamos a este ponto de incerteza e insegurança, que a sociedade brasileira vai levar anos para dissipar
Isso é notório há mais de ano, e ainda hoje, São Paulo não tem um ‘Plano B” para o nosso Carnaval de Rua.
Mas deveria, pois há diversas maneiras de se colocar o carnaval para “andar”, economicamente falando, e suprir as necessidades que milhares de paulistanos tem de gerarem emprego e renda, nessa retomada ao “normal possível”.
Lamentamos muito não termos tido a oportunidade de contribuír em ações públicas com nosso “expertise difuso” , que sabe quantos carnavais de rua existem dentro do Carnaval de São Paulo, e como fazer cada nicho ser atendido.
Por fim,
Por estarmos sem as melhores referências científicas na questão sanitária, sem alternativas bem estruturadas na área de fomento , sem outra atitude da Cidade a não ser o “Vai Ter” ou o “Não Vai Ter, viemos comunicar o seguinte à população paulistana.
1) Os Blocos participantes dos Coletivos abaixo assinados, em sua grande maioria, comunicam que não sairão às ruas neste Carnaval de 2022, mesmo que a Festa seja autorizada
2) Todos concordamos que o Carnaval não deixará de ser comemorado, inclusive por Blocos que assim desejarem, mas esperamos que cada grupo ou cidadão que queira celebrar a vida, o faça pensando na melhor forma de PRESERVAR a vida!
3) Entendemos que é OBRIGAÇÃO do Poder Publico ser RIGOROSO na observância das regras sanitárias em TODOS OS EVENTOS que já acontecem e vão acontecer na Cidade de São Paulo até o Carnaval.
4) Convocamos as Secretarias Municipais envolvidas tradicionalmente com o Carnaval de Rua a apresentarem, em nome da Cidade, alternativas realistas e exequíveis para o fomento da Arte , da Cultura e da Economia Informal relacionadas aos Blocos de Carnaval da cada Região de São Paulo, , considerando suas necessidades econômicas
5) Não admitimos a hipótese de se realizar um evento de “Carnaval de Rua” em lugares contidos, ao ar livre, como o Autódromo de Interlagos, Memorial da América Latina, Jockey Club, Sambódromo e outros. Isso é alternativa do setor privado.
6) Pedimos que sejam oferecidos programas de fomento que alcancem específicamente todos os Blocos inscritos, dentro de uma proporcionalidade referente às suas necessidades, com aferição feita pelos mesmos em comissão constituída pelos atuais Coletivos Carnavalistas da Cidade.”