Blog retrata moda da rua com fotos e modelos “naturais”

por Vvivian Whiteman, publicado na Folha de S.Paulo

Cansado de sites de moda de rua que parecem editoriais de revistas de luxo? Pois o blog O que o Povão Usa (colunistas.ig.com.br/oqueopovaousa), criado pelo pernambucano Douglas Carlos, 22, vai revolucionar sua rota de navegação fashion.

Nada de modeletes, fashionistas e aspirantes a celebridades fotografados em portas de desfiles ou lojas de grifes sofisticadas.

Nada de fotos montadas, feitas para imitar flagrantes e criar a ilusão de que as ruas são ocupadas por multidões de pessoas que pagam milhares de euros numa sapatilha ou centenas de dólares numa sacola de plástico.

“Comecei a fazer as fotos como pesquisa, mas percebi que existia uma criatividade muito grande naquilo que eu via”, diz Douglas, que foi convidado pela primeira vez para cobrir o Fashion Rio.

“Quando a pessoa não pode comprar muito, ela se vê obrigada a exercitar a versatilidade. A maioria dos blogs de rua simplesmente escolhe ignorar esse fenômeno para repetir os looks de luxo”, diz.

No Rio, viu desfiles e circulou pelas ruas cariocas fotografando peças similares em pontos populares da cidade.

Esse contraponto é a base do blog, que mostra com imagens o diálogo que se estabelece entre rua e passarela de forma inovadora.

As fotos, às vezes sem foco, mostram gente em movimento, tratando da vida. Não se trata também do expediente “como usar o que está na passarela gastando menos”.

Com sua despretensão, Douglas fotografou o fenômeno da moda em sua essência: as roupas muitas vezes velhas de guerra dos populares voltam à moda de tempos em tempos, em ciclos.

“Fotografo gente que consome moda, mas não vive para a moda. As referências, mesmo que em peças mais baratas ou de qualidade inferior, estão lá”, analisa.

“Só que aparecem misturadas de uma maneira que os preconceituosos chamam de cafona, sem perceber a riqueza de ideias”, afirma.

Douglas lamenta que muitos fashionistas endeusem blogs de rua como The Sartorialist e o de Tommy Ton para o portal Style [ambos usam recursos de luz, priorizam grifes e interferem nos looks], enquanto tratam a moda popular como cafona e fonte de piadas de mau gosto.

“Quero deixar bem claro que meu blog não faz chacota. Todos os dias surge um Tumblr [sistema de rede social e microblog] ou alguma comunidade ridicularizando a moda do povo. É grosseria e burrice, pura falta do que fazer”, afirma.

Fã das “tropicalientes” grifes paulistanas Neon e Amapô, Douglas diz que suas andanças e pesquisas revelaram que a estamparia farta e colorida é a grande rainha da moda popular.

“A estampa conversa com o povo, que as mistura com muita naturalidade. Se a Neon fizesse uma coleção barata para redes como C&A e Riachuelo, seria um sucesso.”