Bolsonaro copia editorial da Globo de 1984 para exaltar ditadura
Ao usar seu pronunciamento em rede nacional para defender o golpe militar, o presidente ignorou completamente o que significa Independência do Brasil
Em seu pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) transformou o sete de setembro – dia em que se comemora a Independência do Brasil de Portugal – em defesa da barbárie ao exaltar a ditadura militar e em alfinetada à Globo ao copiar trechos de um editoral no qual o grupo defende o golpe de 1964 e o chama de revolução.
No dia da Independência do Brasil, para defender o regime que torturou e assassinou brasileiros, Bolsonaro citou trechos de um editorial do “O Globo”, publicado em 1984, em defesa do golpe militar de 1964.
O editorial assinado por Roberto Marinho (1904-2003) diz: “Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada”.
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Ontem, Bolsonaro afirmou: “Nos anos 60, quando a sombra do comunismo nos ameaçou, milhões de brasileiros, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, foram às ruas contra um país tomado pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada”.
Em 2013, O Globo fez autocrítica afirmando que “o apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro” e apontou: “O apoio a 1964 pareceu aos que dirigiam o jornal e viveram aquele momento a atitude certa, visando ao bem do país. À luz da História, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma”.
Não há como defender a independência do Brasil, defendendo a ditadura. Independência quer dizer, segundo o próprio dicionário: Ter autonomia, liberdade, ausência de subordinação, autonomia política e soberania nacional.
Nenhum desses significados foram respeitados pela ditadura. Brasileiros não eram livres para pensar e expressar. Nossa política econômica era subordinada aos interesses dos Estados Unidos e portanto nossa soberania nacional era atacada.
Em 2020, não há como falar em independência sem falar em ações para que brasileiros parem de morrer, aos montes, por causa da covid-19 e sobre isso, Bolsonaro não fez uma menção sequer. Como ser independente se não conseguimos nem, ao menos, nos manter vivos?
Também não há como ser uma nação livre, que caminha com suas próprias pernas, se não há emprego e desenvolvimento econômico e social. No momento em que mais de 40 milhões de brasileiros estão desempregados ou trabalhando na informalidade (de acordo com dados do IBGE), Bolsonaro ir á rede nacional falar sobre o Dia da Independência, sem falar em geração de empregos, é apenas demagogia.
Na prática, até hoje, o Brasil ainda trabalha para completar sua independência, mas o discurso de Bolsonaro, na noite de ontem, representa um retrocesso para que esta etapa seja concluída.