Bolsonaro diz que índios em reservas são ‘como animais em zoo’
A fala do presidente eleito sobre indígenas foi rebatida pela ex-ministra do meio ambiente Marina Silva
O próximo presidente do Brasil, a partir de 2019, Jair Bolsonaro, afirmou nesta sexta-feira, 30, que manter os índios em reservas seria a mesma coisa que tratá-los como “animais em zoológicos” e ressaltou que, do seu ponto de vista, os indígenas estão em situação “inferior a nós”.
A declaração do presidente eleito foi dada durante visita à Cachoeira Paulista, em São Paulo. Na ocasião, ele foi questionado por jornalistas sobre a capacidade do futuro governo de reduzir o desmatamento e a emissão de gases do efeito estufa, metas do Acordo de Paris – tratado assinado por 195 países que tem como objetivo reduzir o aquecimento global.
“Sobre o Acordo de Paris, nos últimos 20 anos, eu sempre notei uma pressão externa – e que foi acolhida no Brasil – no tocante, por exemplo, a cada vez mais demarcar terra para índio, demarcar terra para reservas ambientais, entre outros acordos que no meu entender foram nocivos para o Brasil. Ninguém quer maltratar o índio. Agora, veja, na Bolívia temos um índio que é presidente [Evo Morales]. Por que no Brasil temos que mantê-los reclusos em reservas, como se fossem animais em zoológicos?”, questionou ele, que durante campanha presidencial já havia se posicionado contra a participação do Brasil no Acordo do Paris, ameaçando, inclusive, a retirada do país do tratado.
- Carnes processadas elevam risco de hipertensão, mostra estudo brasileiro
- Ombro congelado e diabetes: como a doença afeta sua articulação
- Olímpia é destino certa para férias em família no interior de SP
- Como manter o equilíbrio alimentar nas celebrações de fim de ano?
“O índio é um ser humano igualzinho a nós. Querem o que nós queremos, e não podemos usar o índio, que ainda está em situação inferior a nós, para demarcar essa enormidade de terras, que no meu entender poderão ser, sim, de acordo com a determinação da ONU [Organização das Nações Unidas], novos países no futuro. Justifica, por exemplo, ter a reserva ianomâmi, duas vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro, para talvez, 9 mil índios? Não se justifica isso aí”, opinou.
“Insensibilidade”
A fala de Jair Bolsonaro sobre os indígenas foi rebatida pela ex-ministra do meio ambiente Marina Silva que, através de seu perfil no Twitter, disse que o futuro presidente “mostra mais uma vez o profundo desconhecimento e insensibilidade com os povos indígenas”.
“O modo de vida das populações indígenas precisa ser respeitado na sua singularidade, como prevista na Constituição que ele diz defender. Lamentável”, afirmou a líder da Rede, que disputou a presidência da República contra o militar.
Em outra postagem, Marina exaltou compromisso assinado nesta sexta pelo presidente Michel Temer para implementar o Acordo de Paris na reunião do G-20, “em oposição às bravatas de Bolsonaro, que podem trazer prejuízos enormes ao país, como o naufrágio do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul”, ressaltou.
Recentemente, o presidente da França, Emmanuel Macron suscitou a possibilidade de seu governo não fechar acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, caso os países-membros dos blocos econômicos não se comprometam com o Acordo de Paris.
“Não podemos pedir aos agricultores e trabalhadores franceses que mudem seus hábitos de produção para liderar a transição ecológica e assinar acordos comerciais com países que não fazem o mesmo. Queremos acordos equilibrados”, afirmou o líder francês durante visita à Argentina na quinta-feira, 29.