Brasil ainda é contra o aborto em casos de zika e microcefalia

Estudo revela que os danos já descobertos são apenas a ponta do iceberg

No Brasil, a mulher ainda não tem o direito de decisão sobre o seu próprio corpo: uma pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha nesta segunda-feira, 29, revela que a maioria dos brasileiros não acredita que grávidas contaminadas pelo vírus zika deveria ter direito ao aborto. Neste caso, 58% dos entrevistados é desfavorável à retirada; enquanto 32% defendem a interrupção e 10% resolveram não opinar.

Em casos de microcefalia nos bebês, o percentual que se opõe ao aborto diminui, embora ainda permaneça como maioria, com 51%. Neste caso, 39% se apresenta favorável ao aborto. Entre as mulheres, a rejeição sobre o aborto é maior em caso de contaminação (53% entre os homens) e 56% em caso de microcefalia, contra 46% na opinião deles.

Realizada entre os dias 24 e 25 de fevereiro, a pesquisa ouviu 2.768 entrevistados em 171 municípios. E teve margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou menos. Apesar da aparente rejeição entre a opinião pública, o debate sobre ampliação do aborto legal ganha espaço no país desde os primeiros rumores envolvendo a contaminação pelo vírus e a síndrome da microcefalia.

X da questão

Ainda de acordo com a pesquisa, a defesa do aborto para casos de microcefalia é notória entre entrevistados que possuem maior escolaridade. Neste caso, entre os que concluíram ensino superior, 53% são favoráveis contra 39% contrários.

A divulgação do estudo ainda conclui que, se comparado aos números registrados em novembro de 2015, os índices de desaprovação são inferiores quatro meses após o primeiro levantamento. À época, 67% eram contra o aborto; 16% queriam um direito ao aborto mais amplo – em casos de risco à saúde da mãe, estupro ou anencefalia do bebê.

Entre mulheres entrevistadas, 58% declararam ter “muito medo” do vírus

Ponta do Iceberg: danos causados em bebês são mais graves do que imaginado

Um estudo realizado por pesquisadores e médicos baianos, em parceria com a Universidade do Texas (EUA), avaliou que os danos causados pelo Zika Vírus nos bebês podem ser muito maiores do que o já diagnosticado. O novo levantamento mostra que o vírus não afeta apenas o sistema nervoso central.

Para se chegar a esta conclusão, pesquisas foram realizadas em um feto morto na 32ª semana de gestação. Retirado cinco semanas, após ter sido diagnosticado com microcefalia e hidranencefalia (rara condição em que o crânio é composto por um líquido), o feto apresentava complicações no sistema nervoso, artrogripose (doença congênita que deforma os membros e as articulações) e hidropisia (presença de líquido em cavidades do corpo, provocando inchaços no bebê).

As descobertas, publicadas pela revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases, foram consideradas apenas “a ponta do iceberg”. “Descrevemos no dia 9 de fevereiro, as primeiras lesões causadas pelo vírus da Zika no sistema ocular (nos olhos) e as alterações auditivas. Além disso, alguns bebês com o vírus da Zika não têm microcefalia. Então, chamamos isso de síndrome da Zika congênita e dizemos que é ‘apenas a ponta do iceberg'”, relatou o médico.

Além dos danos causados, a pesquisa também chama atenção para a ausência de sintomas do Zika vírus na mãe submetida às avaliações. Segundo o artigo, apesar de exposta ao vírus, ela não chegou a desenvolver nenhum sintomia, ainda que tenha sofrido “complicações graves” como destacou os especialistas.