Brasileiros lançam projeto nas ruas de Paris e distribuem alimentos e roupas para refugiados
No último dia 27 de fevereiro, o longa-metragem “Fatima” recebeu o prêmio de melhor filme no César, festival mais importante do cinema francês. Dirigido pelo franco-marroquino Phillipe Faucon, a produção retrata a história de uma empregada magrebina (região noroeste da África), interpretada pela atriz argelina Soria Zeroual, que vive sozinha com as duas filhas na França.
Em meio à criação de leis que visam o bloqueio de imigrantes, a trajetória de Fátima, a personagem, retrata um cenário que vai além dos quase 90 minutos de reprodução. Poderia estar entre os milhões de refugiados chegados ao país nos últimos anos, ou entre os três mil estrangeiros concentrados num campo de refugiados no porto de Calais (próximo ao Canal da Mancha), que por lá, não por acaso, recebeu o nome de “New Jungle” – ou Nova Selva.
Neste cenário de exclusão, xenofobia e desespero, os brasileiros Jean Michel R. Brito e Samuel McGinity, que vivem em Paris, resolveram arregaçar as mangas diante da crise social nas ruas da capital francesa. “Atualmente o governo francês não consegue organizar toda essa quantidade de pessoas e muitas estão desamparadas, sem auxílios. Paris é uma cidade luz aos olhos de muitos, mas para mim, se tornou escura e cinzenta com tamanha desigualdade social”, ressalta Jean que em outubro criou o projeto social Mission Possible Paris.
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A revolução está em você (e ajudar o próximo pode ser muito mais fácil do que parece)
Tudo começou quando Jean, fã da rainha do pop Madonna, comprou um ingresso para a apresentação que a cantora faria em dezembro do ano passado na cidade. Ao mesmo tempo, se via dividido pela vontade de dar vida ao projeto que há algum tempo planejara.
Bem pensou e chegou à conclusão: por que não vender o ingresso e comprar alimentos para refugiados em situação de rua? Foi o que fez. E não se arrepende. “Converti todo o dinheiro comprando alimentos para doar e ainda estou usando. E foi assim que criei a associação. Eu só quero passar a ideia para as pessoas de como é fácil ajudar, independente de associação ou não”.
Cinco meses depois, o ativista chama atenção para a urgência de ações solidárias em um mundo cada vez mais propenso ao individualismo e segregação. “Todo mundo tem aquela roupa, aquele sapato que está guardado, escondido e não usa mais. Então, por que não colocar na mochila, na bolsa e no caminho para o trabalho ou faculdade, encontrar alguém e doar? O mundo está cheio de pessoas morando na rua, você sempre irá encontrar alguém. A página servirá para isso, dar ideias de como tudo é fácil”.
Confira também o bate-papo que tivemos no qual ele conta um pouco mais sobre o projeto, ideias futuras e até dicas caso você também queira contribuir. Pois vamos lá, faça sua parte!
1) Qual a situação do imigrante que chegou à França nos últimos meses? E como é o tratamento dos franceses, sobretudo, após os atentados que ocorreram no ano passado?
Jean – Não tem sido nada fácil. Como aumentou muito a chegada de imigrantes sírios e romenos e com os últimos atentados em Paris, quem desembarcou por aqui não tem muita facilidade em adaptar-se, alguns sim. Vejo que a inserção na vida francesa se dá aos poucos, ou seja, na medida que conseguem documentos, moradia, apoio, assistência etc, vão tomando rumo, inclusive no aprendizado do francês.
Existem até hotéis que trabalham para isso, porém não supri a necessidade de todos, pois cedem apenas um espaço para dormir (trabalho do governo), e não garante auxílio alimentação e muito menos vestimentas.
2) O projeto acontece através da doação de alimentos ou também distribui roupas e mantimentos?
Jean: Apesar de alguns hotéis oferecerem espaço para dormir, por meio de iniciativas do governo, os refugiados não têm garantia de alimentação e muito menos vestimentas. Por isso, além dos alimentos, também distribuímos roupas (principalmente casados de frio), calçados e cobertores.
3) Como os brasileiros podem contribuir com a campanha? Vocês já tem planos para o futuro?
Jean: Os brasileiros podem contribuir curtindo a nossa página da “Mission Possible Paris”, nos enviando fotos, caso tenham feito algum trabalho social para que possamos publicar na página, nos dando ideias, e abraçando também a causa para si, independente de associação ou não. Nós temos planos sim. A princípio queremos buscar pessoas para que nos ajude nas distribuições, com arrecadações, precisamos de colaboradores e voluntários e com isso levar o nome da nossa associação para várias lugares. Em abril estarei em Sao Paulo e já estudo a possibilidade de fazer um evento na capital.