Caio Blat fala sobre “Bróder”

Jeffers De, Cássia Kiss e Caio Blat
Jeffers De, Cássia Kiss e Caio Blat

Paulistano, tendo iniciado sua carreira de ator no grupo dos Parlapatões, na praça Roosevelt – marco da cultura teatral da cidade -, Caio Blat se declara inteiramente ligado a metrópole de São Paulo. “Sou apaixonado pelo jeito independendo do paulistano viver. Só em São Paulo me sinto ligado ao que está acontecendo no mundo”, diz.

Agora Caio representa na tela do cinema a realidade de uma parte da cidade que tanto ama, mas que infelizmente ainda não é muito conhecida pela população da região central, o Capão Redondo, zona sul. “É o primeiro filme sobre o Capão. O ‘Bróder’ é um dos filmes mais bonitos da periferia de São Paulo”, conta o ator.

Dirigido por Jeferson De, o longa-metragem “Bróder” foi todo elaborado por pessoas da própria comunidade. A trilha sonora é dos grupos de rap local, como Rosana Bronx e Racionais MCs. Parte dos diálogos é do escritor Ferréz, morador do bairro. O figurino da grife “1dasul” também criada pelo Ferréz. Muitos da equipe de produções e figurantes são as próprias pessoas que vivem lá. “O Capão foi tomando conta do filme, parte do elenco são moradores. O Napão [um dos personagens] é feito pelo Bronx, que é um rapper dali”, fala Caio.

“Estou muito orgulhoso de ter feito esses filmes. Não conhecia o Capão. Também tem jovens de lá que nunca vieram onde eu moro, que é a Paulista. A visão deles não é a mesma que a nossa. A molecada é sem oportunidade, não sonham com faculdade. Os dois personagens são sobre isso, garotos cheios de talento mas sem oportunidades”, conta Caio Blat ao falar da preparação que fez para atuar não apenas no filme de Jéferson De, como no “Os Inquilinos”, do cineasta Sergio Bianchi, rodado em Brasilândia, também periferia de São Paulo.

Em “Bróder” ele faz Macu, referência à Macunaíma, jovem branco inserido na cultura negra predominante na periferia, com amigos e irmãos afro-descendentes. Macu é um dos três amigos (personagens principais) que cresceu sem perspectiva no Capão e agora tenta organizar um seqüestro. “Ele só tem a perspectiva de descolar dinheiro por um tempo.” Enquanto que seus outros dois amigos de infância trilharam outro caminho. “Os três têm em torno de 23 anos, idade que o jovem escolhe o que vai ser na vida.” Um mudou-se para um apartamento em frente ao Minhocão e apesar de lutar para melhorar de vida ainda enfrenta dificuldades. Já o outro virou jogador de futebol da seleção brasileira. “Ser jogador de futebol é o sonho de quase todo mundo da favela.”

“  ‘Bróder’ é um filme sobre amizade. Amizade no Capão é muito forte, por isso queremos trazer o título para Quebradas Emoções [quebrada é a gíria referente a bairro]”, completa.

Para fazer Macu, Caio viveu o dia-a-dia do Capão durante quatro meses. Comprou um fusca pra circular pelo bairro, alugou uma casa para ficar nos dias mais longos de gravação, passou a ir na casa dos moradores, em show de rap, em cultos de igrejas e conheceu Eliton. “Ele é o personagem que eu queria representar”, diz. “O Macu é o próprio espírito do bairro. Aqueles meninos que ficam o dia todo na rua e você não sabe se estão estudando ou trabalhando, ai quando você vê estão entrando para o crime.”

Pensando em toda a temática do filme, Caio Blat e a equipe de Bróder, com o apoio da Ancine (Agência Nacional do Cinema), tentam um acordo com a Globo Filmes e a Columbia para lançarem o selo de Cinema Popular. “É uma campanha junto com a Ancine para legalizar o mercado popular do cinema brasileiro.” O objetivo é vender DVD de filmes nacionais por dez reais, combatendo assim a pirataria e levando a cultura cinematográfica para mais perto da população de baixa renda. “O povo da periferia não tem acesso ao cinema que é feito lá. Com o Bróder queremos levar essa questão para o debate”, declara.

O lançamento do Bróder está previsto para ser feito fora dos padrões tradicionais. “Queremos inverter o lançamento do filme. Primeiro vai ser popular, com pré-estréia no shopping do Campo Limpo, que é o shopping freqüentado pela população do Capão. Se não começarmos dentro do espaço deles, os moradores vão acabar assistindo a versão pirata.”