Carnaval 2018: Salgueiro faz black face e internet critica
Web ainda criticou a falta de mulheres na comissão de frente, em um enredo que, curiosamente, homenageou personalidades negras femininas
Na madrugada desta terça-feira, 13, aconteceu a segunda noite do desfile das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Com um dos enredos mais aguardados, a Acadêmicos do Salgueiro homenageou a luta e a história das mulheres negras, desde o Antigo Egito até as brasileiras contemporâneas.
Porém, duas alas chamaram muito a atenção das redes sociais: a bateria e a comissão de frente. Ambas por motivos diferentes, mas similares em sua raiz.
A comissão de frente do Salgueiro trouxe em sua concepção 15 pessoas, entre homens e mulheres, todos vestidos de mulheres, que davam à luz crianças negras durante a coreografia. A crítica da internet foi a seguinte: já que o enredo homenageava as mulheres, por que não convocar apenas mulheres para dar vida a esses papeis?
E a comissão de frente que falava sobre fertilidade com homens "interpretando" mulheres? Que bosta, Salgueiro. Que bosta. E o desfile foi lindo. https://t.co/O0MZRNAy2k
— ( ͡° ͜ʖ ͡°) (@_nelsoncezar) February 13, 2018
Homenageando mulheres negras, Salgueiro vem com comissão de frente formada apenas de homens.Pintados de preto! Com black face e tudo! #fail
— dianamedeiros (@dianamedeiros) February 13, 2018
enredo sobre mulheres negras e só tem homem na comissão de frente representando as mulheres #Globeleza #Salgueiro pic.twitter.com/b1mfjYf5T4
— mariane (@perryannexx) February 13, 2018
Mas se o enredo era de mulheres negras, pq a comissão de frente do Salgueiro era composta por homens fazendo black face? ? #encontro #Salgueiro
— fuckthepigs (@ingriidientes) February 13, 2018
Aí que o Salgueiro cantou as mulheres negras, e a comissão de frente era composta por homens de black face representando essas mulheres! Não merece ganhar!
— Henrique Bucheri (@hbucheri) February 13, 2018
Já a bateria ganhou um enfoque maior das redes sociais. Os integrantes estavam caracterizados com black faces. O debate sobre black face é recente, porém batido. Qualquer pessoa que tenha internet e acompanhe os debates em redes sociais já sabe que o black face serviu por séculos para ridicularizar negros. Era uma ferramenta de opressão, e não deveria ser tratada como folia nos dias de hoje. Além disso, você deixa de dar oportunidades para pessoas negras interpretarem aquele determinado papel.
Nas redes sociais, a maquiagem não pegou nada bem:
Salgueiro não tem negro suficiente pra representar o enredo, aí faz Blackface. Escola elitista é isso.
— Mulher Elétrica (@umaparadashow) February 13, 2018
é impossível que não tenha tido UMA pessoa com bom senso no Salgueiro pra dizer que “bom talvez não seja uma boa ideia a gente fazer black face”
— rod spellman (@rodpocket) February 13, 2018
Salgueiro veio bonita, porém incoerente. Se pôs a homenagear as mulheres negras, mas veio utilizando blackface na bateria e na comissão de frente de homens vestidos de mulheres, um samba composto e cantado só por homens. As mulheres negras ficaram de lado. Errou feio, errou rude!
— Gabriel Alves (@eGabrielAlves) February 13, 2018
Outras pessoas partiram em defesa do Salgueiro, minimizando o black face em detrimento da história e da negritude presente na escola:
É serio que vocês tão acusando a escola de samba mais negra da historia do Brasil de racismo por conta do Black Face?
Quero ver chegar na quadra e falar isso…
Vem Salgueiro
— Daniel Assis (@daniel_assis07) February 13, 2018
O que mais me irrita da população de qualquer movimento é como as pessoas esquecem de contexto.
Black face é usado para ridicularizar a figura do negro, muitas vezes usado para “comédia” de forma bem depreciativa. O que o Salgueiro está fazendo é representar o seu enredo.
— Jacqueline Lima (@jacquelinearq) February 13, 2018
Ao jornal O Globo, o coreógrafo da comissão de frente do Salgueiro, Hélio Bejani, disse que tem “liberdade poética” para fazer black face. E mais: justificou a utilização de homens para interpretarem mulheres na comissão de frente por necessitarem de “feições mais escuras”. “O enredo é afro. E é um afro mais histórico. Precisávamos dessas feições mais escuras. Por isso, decidimos pela pintura e por usar homens representando mulheres. Queria dar uma robustez. A maquiagem era a única forma de conseguir o tom certo”, disse o coreógrafo.
- Ninguém tira aqui a grandiosidade do desfile do Salgueiro. Não tira, muito menos, a importância da temática abordada pela agremiação no desfile. Carnaval também é sinônimo de luta e resistência e, por isso, devemos aplaudir o enredo da escola. Contudo, algumas escolhas, como bem apontado pelos internautas, foram incoerentes.
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