‘Casos de Família’ forja situação para debater intolerância

“Nasci mulher em um corpo de homem… e adooooro, seu trouxa.”, foi o tema do programa na última quarta, 21

O programa “Casos de Família”, do SBT, não é conhecido por sua credibilidade e várias vezes foi acusado de encenar dramas supostamente reais para gerar polêmica e aumentar a audiência. A história mostrada na atração na última quarta-feira, 21, é um desses exemplos em que a veracidade do caso exibido está sendo colocado na berlinda.

Segundo informações do colunista Mauricio Stycer, do UOL, o programa, apresentado por Christina Rocha, sob o tema “Nasci mulher em um corpo de homem… e adooooro, seu trouxa!” teria forjado o tema, preconceito da família a uma transexual, para passar uma lição de tolerância ao público.

O programa mostra drama da transexual Thalita Araujo (à dir. na imagem), que sofreria preconceito dentro da própria família por causa de sua identidade de gênero. “Ele é travesti 24 horas, se veste de mulher. Eu não concordo com isso”, disse Adriana, cunhada de Thalita que se sentiria incomodado com a transexualidade da cunhada. “Acho que é má influência para o meu filho”, acrescentou.

O Brasil é o país que mais agride e mata homossexuais e transexuais, segundo dados da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais (ILGA). A cada 25 horas, um cidadão LGBT é morto no País. Diante desse cenário assustador, o tema do programa faz todo o sentido e é de extrema relevância. O problema, segundo o UOL,  é que tudo não passava de encenação e espetacularização do tema, de acordo com relato da própria Thalita Araújo.

Em vários comentários em seu perfil no Facebook e em um grupo de transgêneros, enviados ao blog, ela explica a situação. “Obrigado a todos vocês que me assistiram. O programa é todo combinado. Minha família, meus sobrinhos e a drag me amam. Referente a chamar de ‘ele’, foi tudo combinado”, afirma.

“O bom do programa foi a parte da psicóloga informar a sociedade referente a transexualidade [a psicóloga Anahy D’Amico participou da atração e deu várias lições sobre tolerância e a necessidade de compreender o outro]. O restante foi tudo um blábláblá sem proveito algum. Espero que tenha contribuído de alguma forma pra sociedade brasileira entender o nosso lado e tirar seus preconceitos e conservadorismo”, comenta.

A assessoria do SBT informou que o programa “Casos de Família” tem uma missão social muito clara, por isso todas as histórias são e devem ser reais e se eximiu da responsabilidade de, no caso, algum participante inventar ou exagerar fatos. “A nossa seleção é através de entrevistas, e não com detector de mentiras”, disse a emissora ao UOL sobre o caso.

Confira o relato na íntegra de Thalita Araújo:

“Obrigado a todos vocês que me assistiram. O programa é todo combinado. Minha família, meus sobrinhos e a drag me amam. Referente a chamar de ‘ele’, foi tudo combinado. O bom do programa foi a parte da psicóloga informar a sociedade referente a transexualidade. O restante foi tudo um blábláblá sem proveito algum. Espero que tenha contribuído de alguma forma pra sociedade brasileira entender o nosso lado e tirar seus preconceitos e conservadorismo.”

“Mesmo o programa sendo toda uma encenação e em partes ter rebaixado e desmerecido a nossa classe trans, espero ter contribuído de certa forma para a sociedade brasileira sobre a importância do tratamento hormonal com acompanhamento de endocrinologista e da nossa militância também na família e sociedade como um todo. Tirando a encenação de minha cunhada e da minha amiga drag, a psicóloga arrasou em suas palavras em defesa e da militância dos trans”..

“O programa foi todo uma encenação. Minha cunhada e minha amiga me amam e me aceitam de coração, sem preconceito algum. Mas, infelizmente, é a realidade de algumas trans. E eu espero ter alertado ao povo brasileiro a ter menos preconceito com nós trans. Queremos apenas ser aceitos pela nossa família e sociedade como pessoas e cidadãos normais na sociedade.”

  • Qualquer que seja a forma de discriminação é importante que a vítima denuncie o ocorrido. A orientação sexual ou identidade de gênero não devem, em hipótese alguma, ser motivo para o tratamento degradante de um ser humano. Veja como denunciar aqui
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