Cine Tela Brasil, abrindo janelas para o mundo
Mais de 950 mil espectadores, de cerca de 400 cidades, já assistiram às sessões
Era mambembe e as dificuldades eram muitas. Mas nada que um sincero sorriso de criança – reflexo da descoberta dos encantos do cinema –, não ajudasse a superar.
O ano era 1996 e a missão dos cineastas Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi era levar, com uma perua Saveiro, um projetor 16mm, uma tela montável e filmes brasileiros de curtas-metragens. As sessões improvisadas aconteciam em assentamentos e aldeias indígenas, deixando nestes rincões do território brasileiro, janelas abertas para o mundo.
Durante oito anos os cineastas cumpriram o propósito de levar a Sétima Arte para estes locais, ainda que sem apoio formal e driblando as adversidades como falta de recursos. Em 2004, o apoio veio – via leis de incentivo fiscal -, e o projeto deixou de ser mambembe. O Cine Tela Brasil, como foi rebatizado, hoje, mais do que uma realidade – é a primeira sala de cinema itinerante do país -, é uma referência bem-sucedida de como levar cultura a quem não tem acesso a ela.
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Os números impressionam: desde 2004, mais de 950 mil espectadores, de cerca de 400 cidades, já assistiram às sessões, tendo um índice de ocupação de salas de 88%. O Cine Tela Brasil permanece, em cada cidade, três dias, e realiza quatro sessões diárias em uma sala com 225 lugares, ar condicionado, projeção cinemascope 35mm, som stéreo surround com leitor laser e tela de 21 m². São duas salas fechadas e uma aberta que viajam – com os caminhões – por todo Brasil.
A luta pela viabilização de espaço para exibir os filmes
Tais feitos, significativos para quem batalhou por eles, têm raízes profundas. Laís Bodanzky já tinha atração pelos cineclubes desde a época de faculdade. “Nesta época, já me ligava no mundo dos cineclubes. Foi quando percebi que faltavam espaços para a exibição dos filmes, os curtas produzidos por nós. Tínhamos os festivais para exibir estes filmes e só, e isso não era satisfatório”, explica.
A luta pela viabilização de espaço para exibir os filmes foi uma força motriz para o surgimento do Cine Mambembe. Mas, além disso, levar cinema para quem não tinha condições econômicas (ou moravam em lugares onde não havia salas de exibição) era o norte. E lições importantes foram adquiridas em contato com estes cidadãos, despidos de requinte cultural, mas com grande capacidade de reflexão.
“Estava escrevendo o roteiro de ‘Bicho de Sete Cabeças’ enquanto rodávamos o Brasil com o Cine Mambembe e pude perceber que pessoas com baixa escolaridade, ou mesmo que nunca haviam estudado, tinham grande poder de reflexão sobre temas complexos. Vi, assim, que poderíamos abordar diversos temas, sem jamais subestimar nenhum espectador. E muito do roteiro complexo, com temas delicados do ‘Bicho de Sete Cabeças’ é reflexo deste entendimento que tivemos com essa experiência”, crava a cineasta, frisando que “os filmes geram reflexões para a sociedade, reflexões sobre a vida”.
Com o Cine Tela Brasil, mais gente pôde refletir e se emocionar. “É maravilhoso ver a emoção de quem assiste a uma sessão de cinema pela primeira vez. As crianças voltam para o fim da fila para assistir de novo, é muito gratificante”, garante.
Outras frentes de ação
Além das sessões itinerantes, outras importantes ações são realizadas: as Oficinas e o programa Educativo. Congregando as atividades, existe o Portal Tela Brasil, onde o visitante pode saber onde serão realizadas as próximas sessões, além de receber oficinas virtuais completas. “O Portal é um centro de informação e formação. Como a internet atinge o Brasil todo, as oficinas virtuais de educação à distância são de grande valia. Serve para quem está no interior do Maranhão ou em São Paulo”.
De mambembe a referência, as ações culturais de Laís Bodanzky seguem rendendo frutos.