Claudia Andujar: um olhar sensível sobre uma história de luta
A trajetória inspiradora da fotógrafa, nascida na Suíça e radicada no Brasil, que se dedicou aos índios Yanomami
A imagem acima revela a força do trabalho de Claudia Andujar. Com delicadeza e profundidade, ela fez um dos registros mais importantes da história brasileira ao fotografar a comunidade indígena Yanomami.
Nascida na Suíça em 1931 e criada na Hungria, a artista imigrou para o Brasil em 1955, onde deu aulas de inglês para se sustentar. Logo se encantou pelo país e, então, começou a explorar o território – principalmente com sua câmera fotográfica.
Claudia, no entanto, nunca imaginou que isso abriria portas para a maior transformação de sua vida.
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Esta iniciou-se quando seu amigo Darcy Ribeiro (1922 – 1997) – importante antropólogo brasileiro – sugeriu que ela entrasse em contato com índios pela primeira vez. A fotógrafa seguiu o conselho e de repente se viu na terra dos Karajá, na Ilha do Bananal em Tocantins.
Na aldeia, a artista registrou diversas imagens que não foram de interesse da mídia brasileira. Percebendo que não havia espaço para mulheres no mercado de trabalho do país, ela decidiu ir aos Estados Unidos para entrar em contato com fotógrafos do meio jornalístico. Assim, conseguiu com que a revista Life divulgasse parte de suas fotografias e o Museu de Arte Moderna de Nova York as comprasse.
Ao retornar para o Brasil, ainda visitou outros povos indígenas antes de chegar ao principal divisor de águas de sua trajetória. Em 1971, já trabalhando na revista Realidade – lançada em 1966 pela editora Abril -, Claudia viajou à Amazônia para fazer uma edição especial sobre a região e, então, conheceu os índios Yanomami.
Mesmo sem falar muito bem português, ela enxergou a oportunidade como uma maneira de se relacionar ainda mais com o país. Não só atingiu esse objetivo, como também criou uma forte conexão com quem lá habitava. Tão forte que decidiu morar na aldeia para se aprofundar no tema, onde permaneceu até 1977.
No entanto, em 1974, acontecimentos trágicos envolvendo a comunidade indígena fizeram a fotógrafa sentir como se tivesse perdido sua família pela segunda vez na vida. A primeira foi durante a Segunda Guerra Mundial, quando perdeu todos seus entes por parte de pai em Auschwitz, famoso campo de concentração na Alemanha. “Eu revivi uma situação como passei na minha infância e isso me marcou profundamente”, disse.
Segundo o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) de 2014, houve mais de 8 mil mortes de índios durante a Ditadura Militar no Brasil (1964 – 1985). Entre as etnias prejudicadas, estava a Yanomami, que teve 354 vítimas por causa da construção da Perimetral Norte (BR 210) – rodovia entre os Estados de Roraima e Amazonas – e a extração de minérios em suas terras.
No período do massacre, Claudia foi expulsa da região pela Funai (Fundação Nacional do Índio) e pelos militares por razões políticas. Ao voltar para São Paulo, resolveu largar o fotojornalismo e se dedicar inteiramente ao povo indígena que a acolheu.
A publicação de livros como “Mitopoemas Yanomami”, “Missa da Terra sem Males” e “Yanomami: A Casa, a Floresta, o Invisível” sobre a experiência da fotógrafa com os índios não foi o único reflexo da conexão que estabeleceu. Ela também se envolveu profundamente com a luta pelos direitos indígenas.
Em 1978, Claudia se juntou com um grupo de estudos e criou a Comissão Pró-Yanomami, organização não governamental sem fins lucrativos para garantir demarcações de terras, melhora na saúde e respeito à cultura dos índios. Ela permaneceu coordenadora da ONG até 1992, mas em nenhum momento desistiu de sua segunda família.
Dona de diversos prêmios e cerca de 10 mil negativos, a fotógrafa ainda registra e compartilha a história dos índios mundo afora. Em novembro de 2015, o instituto Inhotim – maior museu a céu aberto do Brasil – inaugurou uma galeria inteiramente dedicada à ela e seu trabalho sobre seres humanos (a palavra “Yanomami” significa “ser humano”).
A Europa pode ter perdido Claudia Andujar, mas o mundo ganhou uma figura histórica que é símbolo de luta e perseverança. Tudo por causa de um olhar sensível.
Veja aqui outras imagens registradas pela fotógrafa.
Com informações de Galeria Vermelho, Instituto Moreira Salles, Revista TRIP, Povos Indígenas no Brasil, O Índio na Fotografia Brasileira e Itaú Cultural.
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