Como o racismo afeta os viajantes negros no turismo
Quando viajam, as pessoas negras passam por situações que viajantes brancos nem imaginam
Racismo é a discriminação ou preconceito contra pessoas ou grupos por causa de sua etnia ou cor, como negros, indígenas ou pessoas de outros países, como chineses. Isso inclui desde agressões explícitas até formas inconscientes de desfavorecer pessoas negras ou indígenas, privilegiando pessoas brancas. O racismo determina a forma como pensamos. Ou seja, a cor da pele significa muito mais do que um traço da aparência.
Como o racimo é estrutural e estruturante ele afeta as pessoas de diversas formas no Brasil. No turismo, faz com que o número de viajantes negros seja bem menor que o de viajantes brancos, apesar dos negros serem maioria da população no país (54%). Isso é justificado desde por questões econômicas e sociais até o fato das pessoas negras não se verem nesse universo e acharem que isso não é para elas. Repare nos perfis de viajantes profissionais (aqueles que viajam com frequência e produzem conteúdo sobre isso), a maior parte são brancos.
Além disso, quando viajam, as pessoas negras passam por situações que viajantes brancos nem imaginam. No caso dos homens, revistas no raio-x, abordagens no meio da rua, escolhas “aleatórias” para fazer teste antibomba, além de muitos olhares que dizem que você é o “diferente” em restaurantes ou pontos turísticos. Muitas mulheres negras sofrem ainda mais assédio e são hiperssexualizadas, além de sofrerem depreciação estética. Em uma pesquisa qualitativa em 2018, a turismóloga Tainá Santos constatou que 46,7% dos viajantes negros já vivenciaram ou sofreram situações de racimo e/ou injúria racial em viagens pelo Brasil.
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Nesse contexto, nasceu o site Guia Negro, que valoriza lugares de cultura negra e narrativas de viajantes negros. A proposta é inspirar, mapear e guiar por novas escolhas no turismo, por viagens mais diversas e por histórias com a nossa cor, que por muitos anos não foram contadas e existem em todas as partes do mundo. Afinal, quantos lugares de cultura negra você conhece? Quantos você já priorizou visitar? Quantos negócios de pessoas negras você pautou consumir em detrimento de comércios de pessoas brancas? Vamos adotar o black money (pessoas negras consumindo de pessoas negras) também ao viajar!
Nos últimos dois anos, empresas ligadas ao turismo étnico têm surgido e cresce no Brasil o #blacktravelmovement, ou seja, o movimento de pessoas negras viajando para lugares que tem a ver com sua cultura e história. Entre elas, estão a Diaspora.black, a Brafrika Viagens, a Black Bird Viagem, a Rota da Liberdade, entre tantas outras.
Turismo é escolha, comércio, consumo, cultura, dinheiro que circula, conhecimento, pode e deve ser étnico também. Nosso propósito é fazer com que os negros viajem mais e entendam que ter possibilidade de lazer é para nós também. É resistir, contrapor-se à cultura hegemônica e se valorizar. Por mais pretos viajando, por mais viagens pretas, por mais valorização da cultura negra e muitas estradas a serem percorridas por todos nós!