Conheça o primeiro banco de currículos online para pessoas em situação de rua

Criado por grupo de publicitários, Projeto Olhe quer dar visibilidade e emprego à população de rua em todo Brasil

Da série de livros-infantis “Onde Está Wally?” surgiu a ideia de um projeto que pretende criar o primeiro banco de currículos online voltado a pessoas em situação de rua. “Fizemos uma comparação entre o famoso personagem e a condição daqueles que não tem uma moradia para viver. Ambos são praticamente invisíveis em meio à multidão. A diferença é que na história do Wally, o desafio é resgatá-lo do anonimato, enquanto a população de rua segue no esquecimento”, explica o publicitário e um dos idealizadores do projeto Olhe, Edgard Vidal.

Atualmente, em todo Brasil, aproximadamente dois milhões de pessoas sobrevivem em meio a marquises, praças, calçadas e outros meios de moradias improvisadas. Entre essa população, maior que a de cidades como a capital uruguaia Montevidéu , por exemplo, cerca de 70% exerce algum tipo de atividade remunerada.

José Luiz Carvalho, Eduardo Souza da Silva, Marcelo Mesquita Cavalcante e Jorge Paulo Sena tiveram suas histórias de vida contadas pelo projeto Olhe

Segundo pesquisa do Ministério de Desenvolvimento Social, das atividades profissionais mais comuns entre os moradores, 27,2% são ligados à construção civil, 4,4% ao comércio e trabalho doméstico e 4,1% à mecânica. “O objetivo é trazer um novo olhar para essa parcela da população, mostrando que eles têm talentos e habilidades diversas, como qualquer um de nós. Queremos que nossa plataforma ajude essas pessoas a conseguirem novas oportunidades”, ressalta Edgard.

Para dar vida ao projeto, os publicitários Thómas Fernandes, Lucas Cordeiro, Júlia Rebouças, Gustavo Orsati e Edgard Vidal, à frente do Coletivo Criativo F5, buscaram inspiração no comum interesse pela situação de vulnerabilidade social aliada à rotina profissional do mercado publicitário.

“Como muitos dos integrantes são de cidades diferentes, a quantidade de pessoas vivendo nas ruas de São Paulo foi algo que impactou a cada um individualmente. Por trabalharmos juntos, diversas conversas surgiram ao longo do tempo sobre o assunto. Um dia, em uma reunião de brainstorm, surgiu a vontade de fazermos algo específico para essa parcela da população. A ideia não se encaixava no briefing daquele cliente, mas decidimos levar o projeto adiante por conta própria”.

Qual o maior desafio enfrentado desde que surgiu a campanha?

Nossa maior dificuldade é (e continuam sendo) conhecer o assunto a fundo. A cada dia aprendemos mais e mais sobre as pessoas que vivem em situação de rua e estamos longe de esgotarmos a questão. Lemos diversos materiais, entramos em contato com profissionais e instituições para tentar entender a heterogeneidade do assunto. Antes de querermos quebrar o preconceito dos outros, precisamos nos desfazer dos nossos.

Nesse tempo, nos deparamos com informações que não imaginávamos. Soubemos, por exemplo, que há quase 2 milhões de moradores de ruas no país, dos quais quase 16 mil estão em São Paulo. Além disso, segundo pesquisa do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, muitos moradores de rua são alfabetizados e a maioria não bebe ou usa drogas.

Quantos currículos já foram cadastrados?

O banco de currículos está em processo inicial de formação. Hoje, no site, contamos a história de quatro pessoas que tem habilidades diferentes e estão dispostas para o trabalho. Agora estamos em um momento de buscar parcerias com novas instituições que realizem um trabalho sério nessa área para imputar novos currículos na plataforma e fazer com que mais gente seja beneficiada.

Quantas pessoas foram impactadas?

A campanha em si está tendo um alcance fenomenal. Sem realizarmos uma única divulgação paga, já conseguimos milhares de visualizações nas redes sociais. O retorno das pessoas sobre o projeto tem sido bastante positivo e tem aparecido muita gente querendo ajudar de alguma forma.

Quais são as propostas para o futuro?

O nosso objetivo é que, em um futuro não tão distante, esse projeto ganhe o país. Queremos expandi-lo para as outras regiões e estabelecer contato com instituições de todo o Brasil. E, claro, que as empresas possam apostar na iniciativa e comecem a abrir postos de trabalho para essas pessoas.