Convocação de brasileiro para seleção russa é alvo de racismo
O brasileiro naturalizado russo comentou as declarações de Pavel Pogrebnyak
Em entrevista ao jornal Komsomolskaya Pravda, de Moscou, o atacante Pavel Pogrebnyak, do time Klub Ural, deu declarações racistas sobre a convocação do brasileiro naturalizado Ari, do time Krasnodar, para a seleção russa. Ari é negro. O jogador russo ainda achou razoável questionar o fato de que tenham dado um passaporte do país ao naturalizado.
“É ridículo que um jogador negro atue na seleção russa. Eu não vejo sentido nisso. Não sei nem o porquê de terem lhe dado um passaporte. Comentei também com Pavlyuchenko (ex-atacante de Tottenham e Spartak Moscou) sobre isso”, disse.
A palavra russa usada por Pogrebnyak pode ser traduzida tanto como “engraçado” quanto como “ridículo”, o que não tornaria a afirmação menos racista.
Mário Fernandes — lateral-direito formado pelo Grêmio que defendeu a Rússia na última Copa do Mundo após naturalizar-se — também foi alvo de comentários do jogador, que teve passagens por Zenit, Stuttgart e Fulham. “Nessa posição temos Igor Smolnikov. Poderíamos seguir atuando sem estrangeiros. Não precisamos deles”, disse o atacante.
O brasileiro, em entrevista ao canal ESPN, rebateu aos ataques feitos pelo jogador russo e afirmou que isso não será motivo para que ele deixe de vestir a camisa da Rússia.
“Sobre esse comentário, muitos jornalistas me ligaram aqui. Eu prefiro nem falar nada, porque um cara desses nem merece atenção. É triste pensar que nos dias de hoje ainda exista algo assim. Minha ideia é continuar defendendo a seleção russa. Ele foi muito criticado pela imprensa e por colegas. Os jornalistas aqui me perguntaram se eu gostaria de falar algo, rebater. Eu disse que passei por tantas dificuldades já que isso nem me preocupa. Só lamento por ter sido um jogador de futebol e que passou na carreira por outros países, que falou isso, ainda mais nos dias de hoje”, respondeu o brasileiro naturalizado russo.
“Aqui eu me sinto em casa, estou há dez anos morando aqui, tenho uma filha, muitos amigos e futuramente quero continuar morando aqui, revezando com o Brasil. Atuei por grandes clubes russos. A torcida do Lokomotiv até hoje pede a minha volta quando jogo em Moscou. Passei três anos e meio no Spartak, joguei Champions e fiz ótimas temporadas, até hoje me tratam muito bem. Os colegas de equipe sempre me trataram bem demais aqui. Os jogadores da seleção me respeitam muito pela minha experiência. É por isso que eu nem me preocupo e nem fico chateado com esse tipo de situação. Quem conhece meu futebol, torce pela seleção e pelos clubes que passei me admira. Para mim, isso basta”, completou o jogador.
As declarações racistas de Pavel Pogrebnyak não foram ignoradas pela União Russa de Futebol. O presidente da entidade, Alexandr Baranov se posicionou contra as declarações do atleta e assegurou que o Comitê Disciplinar entrará com uma investigação.
“As declarações são muito questionáveis e, claramente, não vão de encontro com os princípios da campanha mundial no futebol sobre um jogo igualitário. Não se pode definir o lugar de um jogador em uma seleção baseando-se na cor da sua pele”, afirmou.