Coreógrafo da Mocidade é vítima de racismo em supermercado no Rio

George Louzada relatou que foi perseguido por um gerente da Rede Multimarket, que ainda tentou olhar o que tinha na bolsa dele

14/08/2020 15:23

O diretor da ala de passistas da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, o coreógrafo George Louzada, afirmou nesta sexta-feira, 14, ter sido vítima de racismo em um supermercado da zona norte do Rio de Janeiro.

Em relato publicado no Facebook, o coreógrafo de 29 anos contou que foi perseguido pelo gerente –um “senhor branco”– da unidade da rede Multi Market, no bairro de Madureira, que chegou a verificar o que ele levava dentro de sua bolsa. George disse que mora em frente ao estabelecimento e que frequenta o local quase todos os dias.

O coreógrafo George Louzada, da Mocidade Independente de Padre Miguel, afirma ter sido vítima de racismo em supermercado
O coreógrafo George Louzada, da Mocidade Independente de Padre Miguel, afirma ter sido vítima de racismo em supermercado - Reprodução/TV Globo

O diretor da ala de passistas da Mocidade disse que, após pagar as compras, fez questão de mostrar a nota ao gerente e expor o acontecimento para quem também estava no mercado.

“Estou aqui hoje para fazer a denúncia de um ato racista, de uma atitude preconceituosa sofrida por mim ontem, quinta-feira, no mercado Multi Market, em Madureira. Desde quando eu cheguei, o gerente talvez estranhando a minha cor, a nossa cor, o gerente me seguiu durante todo o percurso no estabelecimento, avaliando e monitorando tudo o que eu pegava e colocava na minha bolsa”, disse.

ACABO DE PASSAR POR UM ATO RACISTA E PRECONCEITUOSO VINDO DO GERENTE DO MERCADO Rede Multi Market MultiMarket da RUA…

Posted by George Louzada on Thursday, August 13, 2020

“Em um dado momento eu notei essa movimentação mais estranha dele. Ele passou por trás de mim por duas vezes ou três vezes e olhou o que tinha dentro da minha bolsa. Ele abaixou para olhar o que tinha dentro da minha bolsa. Eu continuei as minhas compras. No final de tudo eu não tinha mais o que comprar e eu decidi fazer um teste. Me dirigi até o final da loja para ver se ele ia atrás de mim, pois ele foi atrás de mim. Eu olhei para ele e me dirigi até o caixa. Paguei as minhas compras, peguei a nota fiscal, entrei na loja e fui falar com ele”, completou

George Louzada também fez um desabafo sobre a discriminação sofrida pelos negros todos os dias. “Qualquer ato racista não pode passar em branco, nós não vamos mais nos calar. Nós somos acusados sem provas, somos cercados sem motivos e nós somos acuados. Um mercado com 90% de seu quadro de funcionários pretos, ter uma atitude racista com um cliente é completamente insano. Não se permita passar por essas situações calados. Somos força, somos maioria, e seremos resistência sempre. Somos clientes, e eles precisam de nós, a massa”.

O caso está sendo investigado pela 29ª DP (Madureira).

Outro lado

Em nota publicada no Facebook, a rede Multi Market disse que repudia o racismo e o preconceito e que vai tomar as providências necessárias.

NOTA DE REPÚDIOA Rede de Supermercados Multi Market repudia qualquer forma de racismo e preconceito.Todos os seus…

Posted by Rede Multi Market on Thursday, August 13, 2020

“A Rede de Supermercados Multi Market repudia qualquer forma de racismo e preconceito. Todos os seus funcionários durante a admissão são informados sobre o código de ética da Rede. Sabemos que um pedido de desculpas não basta, por isso já estamos tomando as devidas providências legais. Também nos colocamos a disposição do George para o que for necessário”.

Racismo: saiba como denunciar

Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.

Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.

A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.

No Brasil, há uma diferença quando o racismo é direcionado a uma pessoa e quando é contra um grupo. Saiba mais como denunciar e o que fazer em caso de racismo e preconceito neste link.